quinta-feira, agosto 24, 2006
sexta-feira, agosto 18, 2006

MAR DE GENTE
Sempre me pareceu que as pessoas tinham muito em comum com o Mar. Logo, mantenho uma relação com elas como se de ondas se tratassem.
Umas delicadas e afagantes nas quais me deixo envolver.
Outras bravias, perigosas, que me fazem afastar, e limitar a olhá-las de longe, quando rebentam com estrondo na areia.
Teresa David
domingo, agosto 06, 2006



LIGAÇÃO PERFEITA

INAUGURAÇÃO
Saí do buraco negro deixando para trás a minha festa de imagens, qual corpo inerte em capela mortuária fechada á meia noite.
Evoco os tempos em que se velavam os entes queridos até á Alba.
Como cadaveres os deixei, e agora olho os néons das várias caves de Vinho do Porto, que deslizam e se espelham no Douro.
A noite parada, sem uma aragem sequer, mas também desprovida de calor tórrido, mantêm-me presa a uma esplanada vazia, meramente na companhia de um balão líquido.
Brindo a mim, enquanto me deixo tapar pela noite agradável, onde apenas o som dos carros que de quando em vez passam, quebra o silêncio macio.
Teresa David - 23.07.06
quinta-feira, julho 06, 2006
terça-feira, julho 04, 2006

PRISIONEIRA
Há mais de 20 anos que a vejo a envelhecer, sem que se dê muito por isso, como acontece com toda a gente que vemos todos os dias.
Ela vive na vivenda colada á minha casa, e da minha janela, através do arame farpado, vejo-a estender a roupa, abanar o fogareiro onde assa o peixe, brincar com um garoto que toma conta, falar com as vizinhas.
Ao longo dos anos vi-lhe crescer a filha que se tornou mulher, e que a fez avó.
Mulher esquálida, de voz forte, nunca trabalhou fora de casa, e todo o seu reino se confina ao dentro e fora das portas da sua casa, permanecendo nesse quintal frente a mim, sempre que o clima o permite, ou correndo quintal afora a apanhar a roupa para não se molhar, quando as nuvens tombam em salpicos. Nunca a vi, aquando se senta num banco, ler um livro, não, fica queda a olhar o vazio, talvez a pensar na vida, como se costuma dizer.
Sei que seria incapaz de ter uma vida assim, presa a uma casa, coisa tão claustrofóbica para mim.
Contudo, ela está sempre calma e afável.
Mulher que me relembra os tempos da absoluta e irredutivel submissão ao marido, que pelos vistos ainda não acabaram. Pelo menos aqui, mesmo em frente á minha janela!
Teresa David
terça-feira, junho 27, 2006

TERAPIA DA COR (2)
Mas é no vermelho que me revejo. No escarlate do sangue que com dificuldade me corre nas veias entupidas. Mas também na ajuda da folhagem, que me faz conseguir trepar o muro, e chegar ao cimo e espreitar para o outro lado, não ficando assim confinada, a um Mundo fechado entre quatro paredes. Olhar em volta e procurar a imensidão pois só com uma visão periscópica podemos ir além de nós próprios e estar atentos ao que nos rodeia.
Teresa David
sábado, junho 24, 2006
quinta-feira, junho 22, 2006




O branco será o luto, o repouso deste efémero caminho que trilhamos, com alguns buracos no chão que nos fazem tropeçar
O lilás é água manchada com as nódoas negras dos sentimentos
CONTINUA
terça-feira, junho 13, 2006

A ULTIMA LARANJA
Laranja única, fora de época, isolada entre folhas verdejantes.
Sumarenta, de cor vivaz, todos a temem colher.
Olham-na, esticam a mão, e retiram-na com a rapidez do temor ácido.
Laranja única, á espera do temerário que perceba que o seu sumo ainda é doce, apesar da solidão que a envolve.
Teresa David-foto minha
quinta-feira, junho 01, 2006

JEANNE HÉBUTERNE
Fiz um suicídio dos sentimentos amorosos dentro de mim
por saber que o Amor é fatal.
Há quem ame a vida até ao limite de cedo esgotá-la em vícios que a superlativam, mas a destroíem.
Há quem ame alguém até ao limite de se matar prenha de 9 meses pela perda do homem amado.
Nada disto faz sentido, e contudo, tem o sentido do ultrapassar das regras religiosas e humanas que nos obrigam a viver além da nossa vontade.
Assim, já que temos de morrer impreterívelmente um dia, porque não pelo derradeiro e inultrapassável Amor fatal?
Fiz, como disse antes, um suicídio dos sentimentos amorosos dentro de mim, porque não quis seguir o exemplo das Jeannes deste Mundo, que respeito e admiro, mas apesar de tudo, prefiro não me demitir de mim.
Teresa David
Teresa David-desenho de Jeanne Hébuterne por Modigliani.
segunda-feira, maio 29, 2006

A MINHA NAMORADA
Pedi a Vida em namoro e ela disse que SIM,
fiquei inchada, feliz, mais convicta de mim.
Com o tempo a passar em harmonia total,
pedi-a então para casar, e ela disse que NÃO!
Desanimada fiquei com aquela negação,
e no canto me enfiei para melhor reflecção.
Foi então que compreendi
que a Vida é Liberdade,
não se lhe pode pôr amarras,
seja qual fôr a nossa idade!
Teresa David-foto minha tirada em Amarante
segunda-feira, maio 22, 2006
quarta-feira, maio 10, 2006




CONCÍLIO DAS DORES
Mulher por inteiro em corpo quebrado.
De pêlo na venta contra os moralistas de pacotilha.
Cabeça sempre erguida, com espartilho de sentir e pensar de aço.
Frida, devoradora de frémitos,
Mãe da beleza animal e vegetal,
transformando o obscuro em colorido festejo da Morte.
Frida Oaxaca gestora de si.
"La vaca independente" como se auto-nomeava,
em diário da sua verdade desnuda,
nas imagens molhadas a dores.
Frida resistente bandeira
da pertinácia de se manter em pé.
A ti Feminina/Andrógena, que inundaste o corpo com leite Indío,
presto a homenagem devida,
tendo a dor física também por companheira,
e as lágrimas escondidas atrás da máscara como tu.
Teresa David-quadros de Frida Khalo