quarta-feira, janeiro 30, 2008



CASABLANCA

Esta é sem dúvida a cidade marroquina mais europeia que visitei. Também foi a única onde nos atrevemos a sair á noite. Daí surgiu uma história bastante curiosa que contarei mais adiante.
Muito limpa, luminosa, e com pombos, foi onde me aconteceu a única contrariedade da viagem. Ao regressar do almoço tinha uma roda do carro bloqueada. Sim, curiosamente em Marrocos, em 1999 já bloqueavam os carros! Paga a multa que não me lembro se foi cara ou não, mas também não é assunto relevante, passeámo-nos pela cidade.Vários alertas me tinham sido dados, como já referi, entre eles, nunca beber água senão de garrafa, nem sumo de laranja que vendem em carrinhos de mão, feito na altura, mas depois de as laranjas estarem horas ao sol intenso.
Daí o encontro com o aguadeiro apenas ter servido para tirar uma foto com o chapéu típico dele ao seu lado.

A Mesquita está implantada num espaço gigantesco, ornado de arquitectura árabe magnífica, debruçada sobre o Oceano Atlântico.
Mais uma vez as mulheres, risonhas, sozinhas, se encontravam um pouco por todo o recinto, algumas delas, repousando na amurada que tombava no mar.

As praias todas preparadas para as crianças com diversões e piscinas, sim, porque o mar é tão bravio naquela zona que não apetece muito entrarmos nele. No entanto, as próprias piscinas são cheias de água filtrada do mar e purificada.

Os hotéis onde fiquei, em todas as terras, eram magníficos. Em Casablanca não foi excepção. Contudo, houve um pormenor que começou a tornar-se bizarro de cada vez que me inscrevia na recepção. Mesmo antes de dar o passaporte, invariavelmente, perguntavam-me: Madame, vous etes juive? Finalmente em Casablanca tive a resposta a essa questão, porque, não resisti a solicitar me dissessem a razão da pergunta. Foi-me então dito que se devia ás maçãs do meu rosto serem muito características das Sabras, ou seja, mulheres judias.
Neste hotel tive o melhor quarto, de tamanho tão grande que poderiam nele pernoitar pelo menos 5 pessoas, sem colidirem umas com as outras. Tinha uma varanda onde se via a cidade, mas também a piscina, a melhor onde me banhei. Da porta do quarto se olhasse para baixo via-se o átrio, ou bar, onde se podia ao serão beber um chá de menta, aliás, esse espaço era visível de todos os ângulos interiores do Hotel.

Após um jantar num restaurante Libanês para variar das tágides que já me começavam a enjoar, tirei uma foto com um cachimbo de água, que, não fumei por temor de ficar fora de mim, quando, afinal é completamente inofensivo pois são cheios de frutos. Vim a contactar isso, com grande ironia, quando abriu há uns anos um Bar Árabe bem em frente da minha casa, onde aí, finalmente, provei o cachimbo. Também se tivesse efeitos secundários era só atravessar a rua!

Já que estávamos na zona dos bares e discotecas decidimos ir visitar a noite árabe. Começamos por um sítio turístico onde apanhei um susto quando tentei tirar uma foto á dançarina de ventre, porque, me apareceu do nada, um empregado a dizer que naquele ângulo não poderia fotografar. Não contestei, mas como curiosa que sou, tentei perceber a razão, que, aliás, era fácil de descobrir. Estavam uns ricaços árabes a consumir Whisky por detrás da bailarina, não os cacei mas sim o empregado a servi-los!


Acabei por fotografar o cantor através dum espelho para não atingir o ângulo nevrálgico, a orquestra e o dançarino que achei a maior das graças, pois, movimentava-se com um tabuleiro cheio de velas acesas e copos á cabeça.
Noite que é noite não acaba senão de dia, logo, seria impensável deixar as discotecas de fora do circuito.
E foi exactamente aí que algo de bizarro e inédito na minha vida aconteceu.
Ao contrário do que esperaria havia muitos casais, homens com as várias mulheres e homens e mulheres sós.
Sentados a mirar, particularmente, os homens que dançavam maneando-se duma forma extremamente feminina, reparámos numa mulher belíssima que nos mirava amiúde. Não ligámos, talvez fosse por sermos estrangeiros.
Eram 5 da matina quando saímos rumo ao Hotel que se situava a dois quarteirões dali. Íamos a conversar e comentar tudo o que tínhamos visto quando um táxi parou junto a nós. Dele saiu a bela mulher da discoteca, dirigiu-se ao meu amigo e disse-lhe algo em voz baixo que não consegui entender. Os olhos dele estavam a ficar malandrados e eu
curiosa. Ela voltou para o táxi e questionei-o de imediato.
Ela oferecera-se para vir para a cama com os dois, coisa que por aquelas bandas é absolutamente natural! Claro que reagi de imediato: Bem, até é chato não ires com ela que era bem bonita, mas como partilhamos o quarto ficar á porta á espera que tratasses do assunto seria um pouco humilhante não achas?
No quarto cada um na sua cama, sim porque amigo é amigo não namorado, logo, não dormi, nem estive acordada na cama com ele, ainda rimos sobre o assunto, embora ele não tivesse evitado dizer: Mas foi pena!


Teresa David- fotos minhas

















sexta-feira, janeiro 25, 2008


MARRAKECH


Marrakech, sem sombra de dúvidas, a cidade marroquina que mais me espantou pela forma de viver, costumes, e outras singularidades.


O caminho foi percorrido com uma paisagem árida onde se viam, amiúde, rebanhos de ovelhas com o seu pastor mas nenhuma vegatação para lhes servir de pasto. Os contos das mil e uma noite que preenchem o meu imaginário infantil, tornaram-se realidade perante algumas coisas que vi com os meus olhos nessa terra, onde toda a arquitectura é idêntica e de cor salmão ou rosa velho.


Nas esplanadas só se viam homens que bebiam coca-cola ou chá, conversando entre si sem alarde, nem sequer mirarem as mulheres que passavam, embora também não valesse muito a pena pois a maioria andava coberta dos pés á cabeça!
Nesta cidade encontrei o maior "souk", ou seja,mercado,de todos os sítios por onde passei. Homens passeavam pequenos macacos pela trela e outros chegavam-se aos turistas com cobras enroladas ao pescoço. Como os répteis não são decididamente uma espécie da qual me apeteça muita aproximação, qando um desses tipos se acercou de mim, parece-me que se tivesse sido conometrado o tempo da minha corrida dali para fora, estaria muito perto de uma medalha de ouro olímpica. Na debandada desembocamos num beco onde surgiu um homem a oferecer-se para nos servir de guia na visita ás lojas dos becos. Em Marrocos aparecem do nada homens a interpelarmos. Aceitámos. Primeiro descobri a gruta do Ali Bábá, depois uma farmácia de produtos farmaceuticos artesanais, donde trouxe uns unguentos que me fizeram verdadeiros milagres no corpo durante mais de 3 anos!

Finda as andanças pelas lojas de artigos artesanais, tapetes, roupas e os famosos artigos farmacâuticos, continuámos a percorrer as ruas indo ter a um serralho, com janelas de grade e cadeados, mas a porta aberta!




Embora os homens tenham o poder absoluto, vi sempre as mulheres á molhada, rindo umas com as outras, raramente acompanhadas pelos maridos, salvo quando passeavam com os filhos. Aí as crianças iam atrás de mão dada com as respectivas mães, e os pais á frente de mãos dadas com o melhor amigo. Sim, porque os homens em Marrocos cumprimentam-se entre si com 3 beijos e andam de mão dada com o melhor amigo, aliás, elas também andam de mão dada umas com as outras.



Vi-as todas tapadas, vi-as vestidas á Ocidental e até as vi a andar de mota de perna ao léu! Foi um dia cansativo daqueles em que se quer ver tudo ao mesmo tempo, tantas as coisas que nos rodeiam e nos despertam a atenção.



Daí ter passeado por todo o recinto da Mesquita, entre as pedras milenares. Pelas seis da tarde através do altifalante da torre, munido de potentes altifalantes, uma ladainha entoada a alta voz, apela á oração. Estevissem onde estivessem os habitantes paravam, descalçavam-se, ajoelhavam-se e cumpriam o seu período de reza.



Exausta de tanto andar, com a barriga já a dar horas, subi até ao terraço de um restaurante bem perto da Mesquita, onde um cozinheiro, a par com a comida típica, fazia pizzas ou qualquer prato ocidental. Pedi um bife e uma coca-cola, descansei os pés, atestei o estômago, mas não consegui evitar os olhos pendurados pelo cansaço, do qual só recuperei no dia seguinte, após um belo banho na banheira e um percurso dentro da piscina de água cálida.



No próximo dia iríamos seguir para as cascatas, onde viria a ter uma aventura por vós já conhecida.Teresa David-fotos minhas




sábado, janeiro 19, 2008


AINDA POR MARROCOS - OUALIDYA


Antes de partir ainda houve tempo para recolher junto do Consulado de Marrocos algumas informações de locais que seriam imperdíveis. Entre eles, a par da cascata. surgiu uma terra de nome Oualidya, que tem a particularidade de ser lar de um homem, único possuidor de viveiros de ostras, conservadas vivas dentro do mar.
Embora, para ser franca, não seja uma incondicional amante de marisco, achei por bem ir até essa localidade, quanto mais não fosse para ver algo inédito que seria o homem entrar mar adentro para recolher a minha refeição.
No pavilhão pequeno, na parede tinha, escrita a giz, num quadro de ardósia, uma listagem com os preços relativos á quantidade de ostras prentendidas. Como constactei que quanto maior fosse a número delas, o preço relativo seria inferior, escolhi uma travessa grande.
Quando vi a montanha de ostras que teria de comer, pensei: E o que irei beber para acompanhar isto tudo?
Como se adivinhasse os meus pensamentos, o pequeno homem agarrou-me no braço e em francês, perguntou-me, se não quereria ir com ele até ao armazém. Entre o espanto e a curiosidade, segui-o. O armazém encontrava-se nas traseiras do edifício, numa cave. Não me atrevi a transpor a porta, mas ele desembaraçado entrou e ao fim de escassos minutos, voltou, erguendo no ar, com aspecto triunfante, uma garrafa de vinho tinto, bebida completamente proíbida por aquelas bandas, mas que pelos vistos, é uma forma de obsequiar os turistas!
Após a pançada de ostras e três copos de vinho, que mais não consegui beber, ergui-me e fiquei algum tempo de pé na tentativa de desmoer os bichos, que como se comem vivos, pareciam andar a passear-se no meu estômago!
Já que estava naquela terra e o dia começava a tombar, partimos á procura de poiso para dormir até ao dia seguinte. Descobrimos um hotel muito simpático, com uma piscina onde no dia seguinte ainda dei umas braçadas antes de partir. Após nos instalarmos era hora de jantar, mas o meu estômago continuava a ter aquela desagradável sensação de enfartamento, pelo que me limitei a entrar no bar do hotel e beber umas litradas de chá de menta que não impediram que tivesse a única noite ínsone e desconfortável da viagem, com a permanente sensação dos bicharocos a caminharem nas minhas entranhas, que iam bicando á sua passagem.
Contudo, acordei, embora um pouco amarfanhada, já sem essa sensação de peso no corpo, e, após nadar, sentei-me á mesa da sala de refeições, junto á piscina, onde comi um soberbo pequeno almoço que me devolveu o completo bem-estar.
Malas no carro, depósito atestado, continuámos, desta feita rumo a Marrakech, cidade mais exótica de Marrocos, mas isso será outra história.
Teresa David-fotos minhas



domingo, janeiro 13, 2008


ALGURES NO DESERTO

Em 1999 num impulso fui a Marrocos. Em dois dias arranjei o passaporte e companhia para a viagem. Percorri muitos e muitos kilómetros. Muitas histórias me ficaram na memória dessa jornada entre gentes diferentes no viver e no pensar, que, apenas, me deixaram muito boas recordações.


Estava em Marrakech quando ouvimos falar de um oásis com uma cascasta a 600 kilometros dali, mas que valia a pena visitar por ser no mínimo uma curiosidade.

Com uma temperatura superior a 50º, em que os pés pela primeira vez na minha vida se transformaram em bola de criança brincar, atravessámos o deserto vermelho, desprovido quase completamente de vegetação, até parar num restaurante de beira de estrada, onde um parque de estacionamento me fez rir, pois só tinha um carro já podre e um burro!





No restaurante comemos uma tagide de carneiro, ou antes, tentámos comer, pois a carne estava tão rija, que ao ver um cão escanzelado tentei dar-lhe para comer, e, nem mesmo o animal, o conseguiu tragar.


Com muitos litros de água ingerida finalmente chegámos ao topo da cascata. Olhei lá para baixo e apercebi-me que correspondia a uma descida a pique de mais de um kilómetro por um caminho de cabras.


Obviamente que depois de fazer uma distância tão grande não iria desistir de ver tudo na sua verdadeira dimensão.


Ao olhar em volta vi aproximar-se de mim um homem pequeno, franzino, encardido de pele como todos os marroquinos, que com um sorriso de orelha a orelha se ofereceu para me ajudar na descida. Perguntei logo quanto teria de lhe pagar mas afirmou peremptóriamente que lhe daria o que quisesse.


Embora me tivessem advertido para estar desconfiada com aquele Povo, até áquela altura só tinha recebido simpatia, delicadeza e afabilidade de toda a gente, logo, não senti nenhum temor em aceitar.


Encetámos então a caminhada rumo ao rio onde algumas pessoas se banhavam e outras o atravessavam em embarcações de tal forma artesanais que me pareciam correr o risco de se desmontarem a qualquer momento.


O homem tinha-me afirmado que era muito forte e para não me fiar na sua aparência. A pouco e pouco fui percebendo porquê! Contou-me que tinha seis filhos todos em Rabat na faculdade, porque ali no deserto nunca seriam ninguém na vida. Demonstrou estranheza de eu falar tão bem francês lamentando que quase todos os turistas não falassem essa língua. A meio caminho já avistava a cascata noutra perspectiva e cada vez ía perdendo mais o temor inicial.


Quando finalmente alcançamos o rio, o guia perguntou-me se quereria atravessá-lo a pé ou numa daquelas embarcações manhosas. Com todos os riscos preferi ir a pé, já que tinha chegado até ali, porque não seguir até ao final a minha aventura pedestre?


Não esperava era que a corrente fosse tão forte e tive a prova cabal que o homem era mesmo forte, pois por duas vezes vi jeitos de ir tomar banho da forma mais deselegante possível, que seria de cabeça e pernas para o ar!



Embora com a túnica a correr riscos de se rasgar tal a força que com as pernas tinha de fazer, e o guia também, para resistir á força da água, lá alcancei o objectivo final. Quedei-me de pés na água a ver as pessoas e descansar, embora a minha cabeça já pensasse no regresso, ou seja, na subida íngreme que me esperava.


De novo no cimo, paguei generosamente ao guia e guardei a sua imagem e as suas palavras, particularmente o facto de ter os seis filhos na faculdade e viver miseravelmente no deserto, o que lhe não tinha tirado uma delicadeza extrema.



Teresa David-fotos minhas