sexta-feira, novembro 24, 2006




MULHER-ARANHA
Aranha fui, pessoa me tornei.
As longas pernas deixaram de tecer,
e apenas duas restam para avançar na vida.
Olho com saudade as tessituras que me escondem
de olhares intrusos, quando me aninho no canto.
Miro os móveis que adornei e se espalham por aí.
Fito-as, e fito-me no aspecto humanóide que adquiri.
Já aranha não sou,
resta-me a nostalgia, quando olho a teia,
que teimosamente sempre reaparece
no tecto da sala.
Teresa David-fotos de rendas feitas por mim

terça-feira, novembro 21, 2006







DIÁLOGO DE MULHERES Á COMIDA E Á BEBIDA


Hoje não vou comer só! Mesa posta aguardo a chegada de uma amiga para comermos, e abrirmos os corações, como tão bem as mulheres sabem fazer, sem temor de serem tomadas por seres frágeis, como os homens tanto temem. Não todos, nem sequer sou uma feminista feroz, mas sim alguém que preza o feminino, e a comunhão de sentires tão particulares ao nosso sexo. E neste jantar homenageio todas as mulheres que no último ano têm sido tão presentes na minha vida, dando-me amizade, solidariedade, e não deixando sobretudo que me sinta só, pois sei que do outro lado do écran, do telefone, algures, mais próximo ou mais longe geográficamente, tenho sempre alguém no feminino com quem sei poder abrir-me incondicionalmente sem medo de ser mal interpretada, ou traída.
Ergo então a minha taça repleta de um bom vinho de reserva, sim, o vinho, tem de ser sempre de qualidade, a todas aquelas que tão importantes têm sido para o meu mais recente viver. Bem hajam, e recebam daqui um beijo do tamanho do Universo.
Teresa David

quarta-feira, novembro 15, 2006



















GUERREIROS DA ÁGUA
Enfrentam as gigantes que os tentam engolir.
Caem, mas desprovidos de medo voltam a erguer-se
até vencerem a fúria da água,
e serem transportados em velocidade vertiginosa
para terra firme.
Teresa David-fotos que tirei na Costa da Caparica neste Outuno ainda quente

segunda-feira, novembro 13, 2006



CONTOS DE FADAS

Porque me contaste toda a infância, contos de fadas, todos diferentes cada noite, mas sempre, sempre, com um final feliz?

Porque me escondeste que as pessoas podem ser infelizes, e sofrer de dor?

Porque nunca me esclareceste, que os príncipes e as princesas, escravizavam pessoas para viverem faustosas vidas?

Porque nunca me deixaste ver que a miséria está em todo o lado, e eu não a conseguia ver dentro da redoma onde tu me colocastes?

PAI, revisita-me no meu dormir, e conta-me todos os contos de fadas que ficaram por inventar.

Teresa David-foto de meu pai e eu

sexta-feira, novembro 10, 2006

MONÓLOGO HESITANTE COM UMA REFEIÇÃO, OU, MOMENTOS QUOTIDIANOS
Sempre gostei da partilha de ideias e sentires á mesa de refeições. É aí que as exaltações dos sabores, geralmente, nos levam a conseguir comunicar melhor com os outros.
Há quem faça bons negócios á mesa.
Há quem comece uma relação amorosa com elementos picantes, só porque a comida lhe caíu bem!
Mas também pode existir a solidão, que se minimiza, no meu caso, em transportar os alimentos da mesa para seis pessoas, para uma bem mais pequena, plantada em frente á TV, acompanhar a refeição com um filme que apetece ver, que se coloca no DVD, e que se acaba por meramente olhar, enquanto os pensamentos vogam para os lados do nosso interior, remexendo ou esburacando algumas feridas, ou mais optimisticamente relembrar coisas agradáveis que aconteceram, ou fazer projectos para a vida.
Será uma solução para não ter de enfrentar o vazio de uma mesa repleta de espaço deixado pelos ausentes.
Teresa David-foto minha

quarta-feira, novembro 08, 2006

BASCULHANDO

Despejei as malas antigas sobre a carpete, e delas surgiram farrapos do passado, mais ou menos próximo.
Números de telefone escritos em pedaços de toalhas de papel, cujos corpos correspondentes já são nuvens que passaram, ou buracos negros na memória.
Remédios que pela sua ineficácia ficaram por tomar.
Cartões de pessoas impossíveis de conseguir hoje identificar.
Isqueiros que ainda funcionam, e são sempre benvindos para quem, como eu, ainda não conseguiu afastar-se do vício do tabaco.
Bâtons meios usados, cujas tonalidades divergem da actual, mas porquê não os acabar?
Talões, muitos, de Multibanco, com verbas que há muito já não consigo alcançar!
...E um perservativo ainda dentro do prazo de validade, que foi esperança de algum encontro de corpo que não aconteceu, e quiçá seja altura de usar!

Teresa David-foto minha

sábado, novembro 04, 2006

UM DIA CINZENTO
Pela minha janela entra um cinzento invernoso
que me gela os sentidos
A casa ficou pardacenta, com sombras
que se agigantam pelas paredes

O silêncio é meramente quebrado
pelo assobio do vento

Uma ligeira tremura
chocalha o meu corpo quente
acabado de despertar
de um sono convulso
É hora de reagir, sair do torpor,
e tentar colorir o negrume do dia
Teresa David-foto minha tirada pela minha janela

quarta-feira, novembro 01, 2006

FLAMENCO

Corvos erectos

Serpentes ondulantes

Tropel de cavalos

Galopar de mãos

Sons vibrantes

Corpos revoltos

Emoção orgástica

Mescla sensual

Do corvo a bicada

Da serpente a bifurcação

Andante crescente

Pés de tantãs

Em luta tribal


Teresa David-1997 -foto que tirei em Granada no mesmo ano e agora trabalhada no photoshop