segunda-feira, junho 25, 2007







AS CARETAS DO CÉU



OU



AS MULHERES DE BOTERO




O clima traiu-me algumas vezes, trazendo dias chuvosos.

Olhar o mar cinzento, a piscina deserta, as pessoas recolhidas nos seus habitats e as esplanadas com as cadeiras encostadas ás mesas, como aviso de não as podermos usar, poderia ser tristonho, mas acabei por me divertir á grande!

Ao invés da pouca roupa dos dias solarengos, os chinelos foram abandonados, dando lugar aos ténis ou mocassins.
Casacos vestidos, calções que cresceram até ao final das pernas.
Mesmo assim os dias continuaram a ser agradáveis.
Aproveitei para ir escrevendo estas memórias, sob o canto exuberante dos muitos pássaros que habitavam as inúmeras árvores que se espalham pelo parque, enquanto os meus amigos faziam a sua habitual sesta da tarde.
A par disso surgiu-me a ideia de ilustrar uma afirmação que me fervilhava na cabeça: "Afinal não sou tão gorda como pensava!"
Daí ter começado, de câmara disfarçada pela longa manga que o clima desastrado me obrigava a usar, com um radar no lugar dos olhos, a caminhada de vários kilometros, qual paparazzi, em busca de rabos, particularmente, com o tamanho do Universo.
Como quem porfia sempre alcança, após uma perseguição infrutífera atrás de um que se esmagava no selim de uma bicicleta, esbarrei com o "culo" mais proeminente de todo o recinto, pertencente a uma mulher jovem, duns trinta anos, com 2 filhos, cujo marido também era bem nutrido de carnes. Em passada miúda, olhando sempre pelo "rabo" do olho, via-a estancar. Foi, então, que furtivamente disparei a máquina e recolhi o meu troféu.
Claro que para conseguir 3 fotos, tirei algumas 30, que sairam, ou desfocadas, ou pura e simplesmente sem o alvo pretendido.
Já no regresso á caravana, deparei com outro volumoso naco de carne espetado na minha frente. Não resisti e com toda a clandestinidade possível, me escondi atrás de uma árvore e preenchi todo o écran com esse luxuriante massivo de formas.
Teresa David- fotos tiradas por mim



















sexta-feira, junho 22, 2007











A PRINCESA
DA
POMERÂNIA
Como tão bem se diz: Pela boca morre o peixe!
Passo de imediato a comprovar porquê.
Sempre gostei de cães de grande porte. Olho encantada para um Grand Danois, um cão de água de longo pêlo, um S. Bernardo, pastor alemão ou qualquer Golden Retriever.
Em oposição fico irritada com os outros do tamanho de caganitas, que se movem como se tivessem pilhas, ladram esganizadamente para os poderosos, aos quais bastar-lhes-ia um ligeiro movimento de cabeça para os fazer voar até Marte.
Já tinha visto a foto da Missy, que desprezei de imediato, ao constatar ser uma bola de pêlo, mais peluche que ser vivo, e até a tinha encontrado pessoalmente, mas, há sempre um mas em tudo na vida, nunca convivera com ela em permanência.
Realmente a cadela é mesmo um pom-pom de pêlo matizado em tons de castanho alourado, sempre estática e altiva no seu cochim de princesa da Pomerânia, cheia de pedigree, olhando-nos quase com desdém através dos seus olhos bagos de uvas pretas.
Depressa me começou a causar algum incómodo ver a bichinha só sair da caravana para fazer as suas necessidades. Daí ter tido uma longa conversa com ela sobre as vantagens de estar ao meu colo, ao fim da tarde, repimpada nos meus joelhos. Passei á acção e ao pegar-lhe chiou como um boneco de borracha. Não me intimidei e levei-a na mesma para o ar livre.
Tudo se alterou a partir desse dia, uma vez que, mal me acercava da porta da caravana, ouvia os seus gritinhos agudos e melados, via a sua cauda de rabo de cavalo a dar a dar em leque de nuances, os olhos brilhantes de ansiedade. Mal entrava, voltava-se e oferecia-me as ancas para lhe pegar, dava um saltinho para me ajudar a erguê-la. Seguiam-se, então, momentos de franca troca de afectos. As minhas mãos a desaparecerem na barraguita macia, enquanto a sua língua afivelada me ia lambendo a mão e os braços.
Moral da história:
Tive de rectificar a minha opinião! Continuo a não achar particular graça aos cães pequenos, mas a Missy perdeu esse estatuto.
Trata-se agora de uma amiga canídea de quem guardo sentidas recordações e anseio por voltar a ver. Será que ainda me irá dar as ancas felpudas, para apanhar, ao meu colo, o "fresquinho", palavra chave que utilizava para provocar toda a sua ânsia de ar livre?

Teresa David








terça-feira, junho 19, 2007





































OS POMBOS DE S. MARCOS




Quem tem acompanhado as fotos e palavras que tenho publicado, desde que ando por estas paragens virtuais, certamente saberá como acho os pombos adereço imprescíndivel em qualquer grande Praça citadina, que se preze.


Enquanto em Lisboa, há algum tempo, começou a caça ás bruxas, sendo multados todos aqueles que os alimentam, ali, em Veneza, na Praça de S. Marcos, encontram-se imensas banquetas a vender milho para dar aos pombos.


Claro que com este tratamento de 5 estrelas todos eles estão em estado de obesidade mórbida e potenciais objecto de lucro de qualquer Talon de pássaros!


Quero com isto chegar ao fonto fulcral. A experiência inédita de me sentir tapada de corpos alados que freneticamente se engalfinhavam pela minha cabeça, braços, em redor dos pés, em suma, por todo o lado para onde o milho tivesse tombado.

Obviamente não resisti a fazer um tour paralelo ao habitual dos turistas, pois ao invés por começar pelos canais e gôndolas, fiz uma perseguição por toda a Veneza aos pombos, cujo descaramento neles usual, os fazia descansar altaneiros no cimo dos monumentos, degraus de museus, igrejas, e nas mesas das esplanadas, onde nos tiram o couro e cabelo, se tivermos a veleidade de nelas nos sentarmos.
Teresa David-fotos tiradas por mim (salvo as onde estou, claro)

sábado, junho 16, 2007


























O PEIXE

Antes da viagem os meus amigos tinham-me dito que haveria algo absolutamente imperdível de ver em Veneza. Pensei tratar-se das gôndolas, Praça de S. Marcos, a arquitectura luxuriante que a compõe, ou os canais. Mas não, estava redondamente enganada!
Da primeira vez que desembarquei em Veneza fui de imediato surpreendida por algo que acontece 265 dias por ano, o alagar da Praça de S. Marcos devido á subida da maré.
A minha amiga ficou deslumbrada com o facto, pois ao cabo de dez anos seguidos a ir passar férias em Veneza, nunca tinha tido oportunidade de a tal assistir.
Veneza tem permanentemente uma multidão de turistas, felizmente gente civilizada, que caminha ordeiramente pelas praças, ruelas ou pontes, senão tornar-se-ia um caos a visita á cidade.
Como a água ascendia acima dos tornozelos, sem hesitar, todos caminhámos descalços, ao longo da travessia da Praça mais bela que alguma vez os meus olhos tiveram o prazer de olhar.
Mas retomando o tema desta crónica falarei agora, do peixe, esse sim, a atracção tão falada antes da minha partida.
Quando já calçados virámos a esquina para a rua onde se localizava o restaurante, lar do "Chat qui rit", nome do peixe e do espaço, a fila de comensais era tão gigantesca que ficámos paralisados. De imediato a minha amiga, á revelia do marido e dos empregados, tentou arrastar-me para a sala onde o peixe se encontrava. Foi então, que um rapagão italiano, com um corpo esculpido, capaz de entontecer a mais pacífica cabeça de mulher, nos disse: "Il pesce è morto. L'ho mangiato per festeggare la vittoria del Milan, nella lega dei Campioni".*
A minha amiga e eu acreditámos, pois o peixe já é um velhote de 16 anos. Mais tarde reflectimos que nos estariam a expulsar, pensando que usáramos uma artimanha para passar á frente de toda a gente da fila.
Saímos desiludidas mas não aceitando não voltar ao restaurante para confirmar a mentira e ver o formidável espécimen, visita obrigatória, todos os anos, para eles.
E assim foi. Nova visita a hora antes do almoço para não corrermos o risco de nova nuvem humana. Ao contrário da primeira vez, o restaurante estava deserto. Como gosto bastante de comida italiana escolhi osso buco com salada, prato que raras vezes confecciono por só o arranjar de encomenda.
Com o tabuleiro levado com as mãos tremelicantes de ansiedade, entrei na sala ao ar livre, coberto por uma videira, ornamentada com bonitos abat-jours Tiffany, e com uma das paredes toda revestida pelo enorme aquário, onde finalmente vi pavonear-se o imponente peixe, que a idade embranquecei, mas não fez perder a majestade.
Entre o prazer de o olhar e o estomâgo bem forrado da boa comida, restou um adeus numa longa mirada ao aquário e os piropos, á saída, do empregado: "Ciao Veline**".

Teresa David

*O peixe morreu e comi-o para festejar a vitória do Milão na Liga dos Campiões

**As Veline são assistentes esculturais dum programa de TV. Os jogadores famosos de futebol, como por exemplo o Totti, do Roma, casam com elas porque fica sempre bem a esse tipo de homens terem uma estampa ao lado!