domingo, outubro 29, 2006




CAMINHOS

Quando o corpo se estende

é cansaço

mas também pode ser

o Amor

corro e percorro

o esguio do teu corpo

atravesso o deserto

da rota da Seda

Cedo e deslizo

nas dunas de areia

Canso e descanso

na beira do oásis

Caio no sonho

do sono tranquilo

Durmo e desperto

no dia que vem

Teresa David-1985

Fotos de Michael Martin retiradas do livro "Desertos de África"

sexta-feira, outubro 27, 2006


VACILAÇÕES
Quero o que quero
sinto o que sinto
vivo, vacilo, insisto, desisto,
e persisto no querer...
Assim, porque, assim
eu sou vacilante
no hoje, no sempre
por aqui adiante
Estou e não estou
estar é ficar
futuro de mulher
é não claudicar
Amar o que ama
querer o quer
destino de ser
sempre uma mulher
mulher de desejo
mulher de prazer
escolher a vontade
de estar e ficar
fugir ou morrer
perder ou ganhar
mas sempre viver
Teresa David-1985 , foto tirada por mim em Barcelona

sábado, outubro 21, 2006


A CAMA DESFEITA
É com o corpo que me entendo
que exploro os meus anseios
quando as pernas se enroscam
e os braços se enleiam
Das bocas entreabertas
com o peito a arfar
soltam-se gemidos, palavras
enquanto me olhas nos olhos
sem deixar de respirar
É na expressão de um rosto
que a exaltação mais se sente
nesse quase desfalecer
nesse desejo fremente
No final da jornada
com a cama toda desfeita
fica a ternura, o enlevo
de uma mulher satisfeita
Teresa David - foto minha

sexta-feira, outubro 20, 2006



OS POMBOS DO POETA

Teresa David-Foto minha

segunda-feira, outubro 16, 2006




OPIATO

Entre a tontura e a vertigem

Antevi o teu enleio

Avancei, esmoreci,

E desisti pelo meio

No meio de tanto torpor,

Nem mãos, pernas, cabeça,

O meu olhar alcançou,

Apenas um pormenor

Consegui reconhecer,

Muda, queda, em terror,

Achei que ía morrer,

Pois seu pé se ergueu,

E afinal era um pássaro

Cantando seu apogeu

"Ópiometria" da névoa

Que nos faz entorpecer,

A falsa paz se instala

Na vontade de viver.

Teresa David - foto minha do Mar, e pés retirados da Net

sexta-feira, outubro 13, 2006

DESPERTAR

Abrir os olhos, erguer,
primeiros passos na casa,
um cigarro em jejum,
regresso á luz do dia,
regresso a um dia comum

A beata no chinelo,
Com um olho só aberto,
É o vislumbrar do caos,
é constatar que o filho
ainda está menos desperto

A seguir vou-me sentar,
para descansar do descanso,
planificar as tarefas,
olhar o sol reflectido,
na alva parede do terraço,
mas agora que só estou
não haverá nenhum abraço.

Nem bom dia matinal,
miro o gato que me olha,
e penso:
Está tão velho o animal!

A beata no chinelo
é recordação guardada,
nem o chinelo tem pé
nem a beata foi fumada!

Teresa David-foto minha

quarta-feira, outubro 11, 2006



Plácidamente no seu cativeiro, Camilo, rasgou a madeira, com suas unhas, para escrever a sangue, o nome da amada.

Teresa David

foto tirada por mim na cela onde Camilo esteve aprisionado no Porto.

segunda-feira, outubro 09, 2006



PÉGADAS

Caminhei pela praia,

numa jornada sem fim,

á procura de alguém,

para me lembrar de mim.

Após muitos quilómetros

sem ninguém encontrar,

exausta, derrubada, desisti,

e fiquei olhar o mar,

que esse nunca foge dali!

Teresa David

segunda-feira, outubro 02, 2006



TEMPESTADE DE SENTIDOS

Quem dera ser orvalho

quem dera ser geada

para te inundar de mim

numa qualquer madrugada.

Poderia ser o estio

ou agasalho

perto então ficaria

desse corpo desejado

sem sequer dares por isso

nem mostrares nenhum enfado

Quem dera ser vento

ou chuva

quem dera ser um raio

cairia sobre ti

mais forte que o orvalho

Teresa David-foto minha de uma pré-tempestade