domingo, janeiro 13, 2008


ALGURES NO DESERTO

Em 1999 num impulso fui a Marrocos. Em dois dias arranjei o passaporte e companhia para a viagem. Percorri muitos e muitos kilómetros. Muitas histórias me ficaram na memória dessa jornada entre gentes diferentes no viver e no pensar, que, apenas, me deixaram muito boas recordações.


Estava em Marrakech quando ouvimos falar de um oásis com uma cascasta a 600 kilometros dali, mas que valia a pena visitar por ser no mínimo uma curiosidade.

Com uma temperatura superior a 50º, em que os pés pela primeira vez na minha vida se transformaram em bola de criança brincar, atravessámos o deserto vermelho, desprovido quase completamente de vegetação, até parar num restaurante de beira de estrada, onde um parque de estacionamento me fez rir, pois só tinha um carro já podre e um burro!





No restaurante comemos uma tagide de carneiro, ou antes, tentámos comer, pois a carne estava tão rija, que ao ver um cão escanzelado tentei dar-lhe para comer, e, nem mesmo o animal, o conseguiu tragar.


Com muitos litros de água ingerida finalmente chegámos ao topo da cascata. Olhei lá para baixo e apercebi-me que correspondia a uma descida a pique de mais de um kilómetro por um caminho de cabras.


Obviamente que depois de fazer uma distância tão grande não iria desistir de ver tudo na sua verdadeira dimensão.


Ao olhar em volta vi aproximar-se de mim um homem pequeno, franzino, encardido de pele como todos os marroquinos, que com um sorriso de orelha a orelha se ofereceu para me ajudar na descida. Perguntei logo quanto teria de lhe pagar mas afirmou peremptóriamente que lhe daria o que quisesse.


Embora me tivessem advertido para estar desconfiada com aquele Povo, até áquela altura só tinha recebido simpatia, delicadeza e afabilidade de toda a gente, logo, não senti nenhum temor em aceitar.


Encetámos então a caminhada rumo ao rio onde algumas pessoas se banhavam e outras o atravessavam em embarcações de tal forma artesanais que me pareciam correr o risco de se desmontarem a qualquer momento.


O homem tinha-me afirmado que era muito forte e para não me fiar na sua aparência. A pouco e pouco fui percebendo porquê! Contou-me que tinha seis filhos todos em Rabat na faculdade, porque ali no deserto nunca seriam ninguém na vida. Demonstrou estranheza de eu falar tão bem francês lamentando que quase todos os turistas não falassem essa língua. A meio caminho já avistava a cascata noutra perspectiva e cada vez ía perdendo mais o temor inicial.


Quando finalmente alcançamos o rio, o guia perguntou-me se quereria atravessá-lo a pé ou numa daquelas embarcações manhosas. Com todos os riscos preferi ir a pé, já que tinha chegado até ali, porque não seguir até ao final a minha aventura pedestre?


Não esperava era que a corrente fosse tão forte e tive a prova cabal que o homem era mesmo forte, pois por duas vezes vi jeitos de ir tomar banho da forma mais deselegante possível, que seria de cabeça e pernas para o ar!



Embora com a túnica a correr riscos de se rasgar tal a força que com as pernas tinha de fazer, e o guia também, para resistir á força da água, lá alcancei o objectivo final. Quedei-me de pés na água a ver as pessoas e descansar, embora a minha cabeça já pensasse no regresso, ou seja, na subida íngreme que me esperava.


De novo no cimo, paguei generosamente ao guia e guardei a sua imagem e as suas palavras, particularmente o facto de ter os seis filhos na faculdade e viver miseravelmente no deserto, o que lhe não tinha tirado uma delicadeza extrema.



Teresa David-fotos minhas

22 comentários:

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Recordar é viver! Na verdade todos voltamos a ver um brilho nos olhos quando lembramos outros momentos,outras imagens, outros amigos, outras personagens que fazem (fizeram) parte da nossa vida.
Mais uma viagem tão bem relatada.

Beijos

rui disse...

Olá Teresa

Que fantástica esta tua aventura!
Adorei todos os pormenores da narrativa e claro das fotos..., estás um espanto, menina!

Beijinhos

Alexandre disse...

A própria vida é uma cascata de acontecimentos mas esta verdadeira cascata é uma bênção... respira-se vida só de olhar para ela nas fotos, imagino como será bela a três dimensões - e com som!

E a terra vermelha exerce uma atracção fantástica! Que viagem sublime fizeste. Obrigado por partilhares connosco!

Muitos beijinhos!!!

Marta Vinhais disse...

Há sempre histórias fantásticas das viagens que fazemos..
Nunca foi a Marrocos, mas adorei ler as tuas aventuras..
Obrigada pela visita.
Beijos e abraços
Marta

JoAnInHa disse...

Sim senhor, imagens lindas e mais uma historia fantástica, adorei!!!
Obrigado pelo comentario
Beijos

ASPÁSIA disse...

TCHIII TERESA... SÓ TU PARA TE METERES NUMA DESTAS... L´AVENTURE C´EST L´AVENTURE!
O QUE IMPORTA FOI QUE CONSEGUISTE O TEU INTENTO, ATRAVESSASTE A CASCATA E FELIZMNETE SOBREVIVESTE PARA NOS FAZER A REPORTAGEM!

BEIJINHOS SEM AREIA...

Parvinha da Silva disse...

faço minhas as palavras do Rui: estás um espanto, morena e de pernona ao léu! Melhor, só te vi na Piazza San Marco, em dia de acqua alta, de saia arregaçada, sapatos na mão e água acima do tornozelo.

Fiquei com vontade de ir a Marrocos.

Paula Raposo disse...

Uma história deliciosa, Teresa! Adorei. Beijos.

Luis Eme disse...

Conseguiste colocar-me neste teu Norte de África...

Até senti o duro da carne e a força da água...

abraço Teresa

Márcio disse...

Fantástico! Lindo mesmo...

M. disse...

Ó Teresa, até parece que estavas a dançar uma dança aquática.

Bichodeconta disse...

Atrevo-me a dizer que valeu a pena fazer esses kilómetros para poder de perto assistir a essa maravilha..As fotos são muito boas como aliás já é hábito... Um beijinho, ell

Menina Marota disse...

Fantástica aventura e muito bem contada aventura.
E as imagens estão excelentes.

Beijinhos e continuação de boa semana ;)

ASPÁSIA disse...

MINHA PREZADA SENHORA

TENHO O GRATO PRAZER DE POR ESTE MEIO A INFORMAR QUE FOI CONTEMPLADA COM UM PRÉMIO DO EUROMI... UPS, PERDÃO!!! DO "BLOG MUITO BOM, SIM SENHORA" LÁ NO MEU JARDIM.
RESPEITOSAMENTE, FAÇO UMA GENUFLEXÃO E BEIJO-LHE O ANEL, OU, NA FALTA DO MESMO, A FALANGE DO DEDO ANELAR.

UMA SUA CREADA,

ASPÁSIA DA CIRCUNSPECÇÃO CAUTELA.

ASPÁSIA disse...

TERESOKAS, OUTRO ASSUNTO...

A SOPHIAMAR PUBLICOU ESTE BELO POEMA DA NATÃLIA CORREIA. NÃO SEI SE O CONHECES...

TB DEIXEI À SOPHIAMAR (ISABEL) UM LINK PARA A TUA HISTÓRIA SOBRE A NATÁLIA.

O NOSSO ENCONTRO JUNTOU O ÚTIL AO AGRADÁVEL!

BEIJINHOS ALGO POEIRENTOS ;))

amigona avó e a neta princesa disse...

Arrepiante! quase tive medo que caísses!!!

Joaquim Amândio Santos disse...

o que é o conhecimento?

visão directa do corpo e da atitude?
prolongado caminho nem que condutor à saturação encapotada?

Vivência superficial feita de fait-divers e não de curiosa partilha sem hora nem condicionalismos marcados?

Será assim tão impossível iniciar o conhecimento na distância? julgo que não e defendo tal desiderato.


EIS A MINHA HOMENAGEM AOS BLOGGERS, ESSES INCANSÁVEIS CRIADORES DE LAÇOS!

Mirian Martin disse...

Viajei junto... Só não consegui engolir a carne, como você ;) Já fiz travessura assim no interior do Brasil, levando a reboque indianos, franceses, portugueses e alemães, conhecidos nossos. Certos momentos são inesquecíveis! Amei!

Cusco disse...

Olá!
Obrigado por todas as visitas que ao longo da existência deste blog me fizeram.
Se quiserem passem pela minha casota.
Vou apresentar-vos o meu dono.
Obrigado!

Tozé Franco disse...

Olá Teresa:
Grande aventura.
Há sítios e pessoas espantosas onde menos esperamos.
Também gostei das fotografias.
Um abraço.

Lusófona disse...

Admiro muito o seu espírito de aventura, de descobri lugares e sentí-los com a alma.

Marrocos é um dos países que pretendo voltar a visitar.

Parabéns!!


Beijinhos

bettips disse...

Tão verdadeiro e encantador que parece uma lenda...