terça-feira, janeiro 02, 2007




ANNE FRANK HUIS (CASA)

Sempre fui um pouco esquiva a visitar casas/museu com cargas históricas de acontecimentos que mexeram comigo. Esta casa seria uma delas, daí não a ter visitado na primeira vez que estive em Amesterdão.
No entanto, desta vez afoitei-me, e quando entrei no esconderijo da Família Frank, em particular no quarto que ela habitara, cujas paredes forradas com fotos de estrelas de cinema da época, e estampas de flores e bichos, nos transportam para um Universo de adolescente cheia de sonhos que ficaram por cumprir, e com alguma imaginação poder-se-á visualizar as suas mãos a colar tais adereços, imagens estas que a própria menciona no seu diário quando diz: Assim o quarto fica mais acolhedor, menos pequeno!
Era a forma de abrir uma janela para o exterior - digo eu.
Pelas várias dependências encontrei ecrãs onde se podia assistir aos testemunhos de várias pessoas que passaram por aquela casa, como a secretária, e nomeadamente o seu Pai, que conseguiu ser salvo do Campo Concentração pelas Forças Aliadas.


Mas, mais do que tudo, o que realmente me fez engolir uma lágrima mais afoita, foi ver o original do diário, escrito com letra típica de menina, e tão semelhante á minha própria quando tinha a sua idade!


O meu lado familiar paterno é de origem Judaica, sem, contudo, nenhum dos seus membros ter assumido essa religião, pois todos eram ou são católicos, salvo a minha falecida tia Kika que guardava uma ambiguidade em relação aos dois lados, indo, por vezes, quase clandestinamente á Sinagoga onde mantinha boas amizades. Daí quando eu tinha 9 anos ter-me oferecido o "Exodus" de Leon Üris, e o Diário de Anne Frank, enquanto me dizia: Por mais que queiramos nunca fugimos aos nossos antepassados. Logo, é melhor que aprendas alguma coisa sobre o que lhes aconteceu, pois apesar de tudo corre-nos sangue judeu nas veias!

Foram estas palavras que me bailaram na memória, e que me fizeram regredir á minha própria infância, sensibilizar, e particularmente indignar-me, porque àquela Menina bastar-lhe-ia mais um mês de vida e teria sobrevivido aos Nazis!

Mas se assim tivesse acontecido o seu testemunho teria chegado até nós, e eu estaria agora a escrever a seu respeito?

Teresa David-fotos de postais ilustrados comprados na Casa de Anne Frank pois era proibido fotografar no seu interior.

14 comentários:

Marta Vinhais disse...

Pois é, uma pergunta sem resposta?
Ou a resposta será o que se fez com base nessa experiência?
Gostei muito do texto. Obrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta

Conceição Paulino disse...

o horror nunca se compreende nem apreende na totalidade. Ha k vivê-loe mm assim uma centelha de VIDA ooptimizará um pouco senão endoidece-se.
Na puberdade e nício da adolescência li livros não só sobre o holocausto mas sobre as experi~encias "clínicas" realizadas pelos "médicos e outros cientistas" ao serviço das SS/Gestapo (ao tempo proibídos em Portugal e k nunca + apareceram. Foram-me emprestados. Quem os tem guarda-os e creio k não voltaram a ser editados) O horror atingiu-me de tal forma k durante décadas não podia ver uma pessoa d enacionalidade alemão, ou sequer ouvir-lhes a fala....Já pacifiquei esta relação - a mais próxima do ódio k alguma vez senti, tal era o horror k me possuíra ( e eu só lera. Mas lera coisas k a maior parte das pessoas nunca leu nem sabe k foram feitas).
Como ser humano doi-me, doem-me as vidas colhidas e os horrores vividos.
Um outro lado meu, mais em busca do sentido,+ espirituaç e menos ego -"cêntrico" diz-me k o universo conspira a nosso favor ( e tu sabes a imensidão de problemas k tenho, prtt não é de quem vive sobre sedas e rosas sem espinhos)e k tudo tem umobjectivo. O objectivo maior e último da vida de Anne Frank foi por certo este: deixar o testemunho k deixou e k abanou todo o mundo. Pq a descoberta dos campos abanaram-no, mas foi o diário dela k entrou e fez entrar todo o "filme de terror e horror" na cabeça de muita gente.
Acredito k tudo tem um sentido.
Ainda k humanamente me revolte. Bonita homenagem.
Bj. Luz e paz ao nosso redor

bettips disse...

Também li e há muito tempo sobre Anne. Tal como "tmara" tive acesso a livros e imagens que nunca mais esqueci. Agradeço que tenhas trazido este testemunho tão sincero. Quando chorava pela Anne Frank e tb fazia o meu diário, sentia que eu era privilegiada. A sua escrita tão desamparada deu-nos a dimensão do horror e da irracionalidade de que são capazes os homens. Bjinhos a ti.

Alexandre disse...

O Diário de Anne Frank devia ser obrigatório nas nossas escolas.
Eu li muito novo, e voltei a lê-lo e a lê-lo... agora fiquei com vontade de o ler outra vez!

Obrigado por partilhares connosco coisas tão importantes da vida que diz respeito à Humanidade!

E já agora parabéns pelo aniversário do teu blog e um GRANDE ANO DE 2007.

Beijinhos. Muitos!!!!

Maria Carvalho disse...

Nunca visitei a casa. Li o Diário, tal como todas nós, na nossa geração. Um bonito post. Beijos.

M. disse...

Gostei tanto do teu post, Teresa! Sabes, acho que é importante visitar-nos estes lugares. Para percebermos melhor o que as pessoas que lá estiveram sentiram. Há dois anos visitei a Polónia e o campo de concentração de Auschwitz. Foi importante para mim sentir de perto, ver com os meus próprios olhos, como foi possível tamanha monstruosidade. Aliás, nunca mais esqueci a Polónia, tem um lugar muito especial no meu coração.

M. disse...

Claro que no post anterior escrevi erradamente "visitar-nos" em vez de "visitarmos".

por um fio disse...

Olá, Teresinha!
Também gostei muito do teu post e da tua informação sobre um sítio por onde já passei mas «desviando-me». Há momentos para tudo...
E percebi o que querias dizer com essa «lágrima mais afoita»...
Não visitei este sítio, mas visitei um ou outro campo de concentração na Alemanha e saí tristissima da experiência!
Enfim!
Mas tu foste corajosa e troxeste-nos um testemunho muito interessante!
Agora olha para o céu! Está azul e o sol brilha...
Beijo

Teresa Durães disse...

li bastantes livros sobre a segunda grande guerra. Leon Uris, Hans Helmut Kirst, Sven Hassel, Erich Maria Remark, Anne Frank, e muitos mais. Um dos livros de Erich Maria Remark, "Centelha de vida" passa-se num campo de concentração. Remark foi alemão refugiado e conseguiu fugir para os EUA. Sven Hassel foi obrigado a ir para a guerra pelos Nazis. Os livros retratam as batalhas do ponto de vista dos alemães que forma presos e obrigados a lutar. Kirst, inicialmente, foi Nazi. Aliás, 98% da população alemã, judeus ou não, votaram em Hitler. Depois percebeu o que estava a acontecer e foi contra o regime.

Poucos sabem, por exemplo, que havia resistência alemã na alemanha e nas fileiras em combate.

(porque não se deve generalizar um povo como ouço em muito lado)

como poucos sabem que judeus que conseguiam fugir de navio para a palestina e eram apanhados pelos ingleses eram devolvidos à Alemanha e colocados em campos.

Em "Mila 18", de Leon Uris também, contam a vida no guetho de Varsóvia e como os Polacos denunciavam os judeus.

Li o comentário de tmara. Infelizmente as experiências médicas continuam (sempre existiram, sempre existirão)

Tal como a bomba de Hiroshima e Nagashaki foi uma experiência de uma arma.

Anne Frank deixa-nos um testemunho. Há tantos de tanta brutalidade.

Mas na 2ª grande guerra o genoicídio não foi exclusivo dos alemães. As bombas, que ninguém fala delas por falta de conveniência, foi outro.

E continuaram. Com os Franceses na argélia, os servos e por aí adiante.

conheci uma senhora com a marca dos campos. costumávamos trocar conversas e livros no Jardim da Estrela. Dizia-me a rir que o médico dela declarara que ela era uma potencial suicída. Aos 80 anos. Que ele não percebia de nada.

conheci um alemão que visitou israel e gostou imenso de lá estar. que eles não são contra os alemães em geral como nos fazem querer.

mas vale a pena cairem as lágrimas todas. porque assassino é assassino seja de quem for contra quem.

boa tarde

Teresa Durães disse...

:))

detesto violência e horror seja de que modo for.

tenho amigos alemães da minha idade (37). No dia em que se comemora auwzswit (desculpe, não sei escrever) ela (32 anos) apareceu em minha casa de rastos culpando o seu povo, o seu país e a si própria pelo holocausto dizendo que todos os odiavam. Fiquei horrorizada quando a vi. Uma excelente pessoa. Tentei explicar que ela não é culpada, agora fala-se nisso, ninguém fala de Ruanda e outros horrores.

Não que os Nazis não o tenham feito. Fizeram. Mas foram 30 anos de luta de um cientista para retirar o chumbo da gasolina (despedido da faculdade e mal tratado) porque não havia interesses económicos.

Como o caso das tabaqueiras que colocavam aditivos no tabaco para viciar os fumadores (não sei se ainda colocam ou não) e neste caso foi um homem que lutou para que acabasse.

O que tento muitas vezes dizer em muitos lados é que há holocaustos vizíveis e outros não.

Quando fui ver o museu de hiroshima da net fiquei de rastos. E ninguém culpa os americanos.

por isso disse que li o que li para não pensar que falava sem conhecer :) sou uma leitora compulsiva :))

boa tarde para si! Gosto muito de Kandisky e não sou (infelizmente) especialista em pintura

Maria P. disse...

Excelente "post"!

Parabéns.
Beijinho:)

Menina Marota disse...

Há memórias que não podem ser esquecidas.
Grata pela partilha
Um abraço e bom 2007 ;)

Afrodite disse...

Como diria uma nossa amiga, para que a memória não se apague.

Obrigada, Teresa Maria.

Titas disse...

Um post excelente. Por vários motivos: para que não esqueçamos, e pela ternura e emoção que nos transmites.

Um beijo