sábado, janeiro 06, 2007




OS CORVOS DE AMESTERDÃO

Ao passear-me pelas ruas de Amesterdão comecei a encontrar amiúde corvos empoleirados em árvores, plácidos, quase sem mexer, e nos arredores da cidade a caminharem lentamente pelos relvados.

Isso fez-me andar para trás até á infância, e recordar, os meus 8 anos, em que já partilhava a leitura do jornal com meu pai, que me dava sempre, além dos suplementos infantis, a página onde se encontrava a crónica de Leitão de Barros no Diário de Notícias, de nome "OS CORVOS", enquanto me dizia: Cultiva o sentido de humor que é uma das melhores armas que poderás ter ao longo da vida.

Eram sátiras de costumes, de uma finura de linguagem, que hoje, infelizmente, raramente se encontra nos cronistas contemporâneos. Embora ele tenha sido cineasta e eu tenha visto, em reprise, os seus filmes, nomeadamente, A SEVERA, ALA ARRIBA, e principalmente CAMÕES, onde uma das minhas tias maternas, agora com 91 anos, foi buscada a casa pessoalmente pelo Leitão de Barros, para participar num pequeno papel no filme,mas a sua gigantesca timidez e preconceitos, fizeram que lhe passasse ao lado uma carreira de actriz, são as suas crónicas que me ficaram a dançar na memória através dos anos, e provocaram recordá-lo quando decidi falar dos corvos de Amesterdão, pois os de Lisboa, só se encontram nos nossos dias na bandeira da edilidade!

Daí não resisto, e deixo aqui uma das suas crónicas, que infelizmente, diria mesmo, lamentavelmente, continua actual, apesar de decorridos quase 50 anos sobre a sua publicação:

VISTORIA

Um dos aspectos simbólicos das mais altas tradições peninsulares é o cuspir no chão. "Se proibe escupir en en suelo", "É proibido cuspir no chão" - são dísticos que não dei fé de ver afixados em quaisquer outros idiomas senão nos de Camões e de Cervantes. E diz-nos uma correspondente: "Na Suiça não há escarradores". A simples necessidade de fazer, por habitante, uma "capitação" da saliva é, por si, um sintoma de que permanecemos fiéis a uma histórica herança de nossos maiores. Há tempo fez-se, ingenuamente, a campanha de "engolir em seco". Chegou-se a pôr um polícia na estação do Rossio, de guarda ao cuspo. Passado, porém, certo tempo, o caso esqueceu, comos os enredos dos filmes de cinema, E o polícia foi o primeiro a cuspir, num hábito puramente profissional.

Desafio aqui alguém a dizer-me que já não vê ninguêm cuspir no chão, e com requintes de malvadez, escarros bem puxados dos seus âmagos!!!

Teresa David - aguarela minha baseada nos corvos vistos em Amesterdão

17 comentários:

Maria Carvalho disse...

Bom post!! E se há coisa que abomine é ver gente a cuspir para o chão!! Chiça! Bom fim de semana. Beijos.

Marta Vinhais disse...

Claro que há! Horrível, nojento hábito!
Como sempre, o teu post está excelente.
Gostei muito.
Beijos e abraços
Marta

Su disse...

gostei de ler.te
jocas maradas

Conceição Paulino disse...

olá, da aguarela já falaámos. O testo - conjunto - está óptimo. se ver aguém cuspir ou ESCARRAR é repugnanate imagina evar om uma coisa repelente como essa num olho.
Voltei para casa e tomei "n" chuveiradas consecutivas. A sensação de sujidade/nojo, não me deixava.
É como o habito de usar lenços de tecido, assoar e ou escarrar (é este o termo + adequado ao acto e ao produto expelido)e de seguida guardar no bolso.......

Bom f.s amiga

De Amor e de Terra disse...

Olá Teresa!
Para além de lhe vir desejar um Novo Ano de Paz e Luz, venho também dar um passeio por este seu Blog de que gosto.
Não conheço os corvos de Amsterdão, mas conheço os corvos de Roma, que como Latinos, não são calados mas festivos, grasnadores,
curiosos e às vezes intempestivos, como se fossem Portugueses.
Um beijo
da
Maria Mamede

Tozé Franco disse...

Gostei da pintura.
Quanto ao hábito de cuspir para o chão, bata dizer que é muito difícil mudar modalidades. É nestes aspectos que se vê o atraso do nosso país.
Um abraço.

Alexandre disse...

Das piores coisas que se pode ver em público... cuspir no chão!!!

Sou homem mas, infelizmente, tenho que reconhecer que são os homens que mais tomam esta atitude, penso que muitas vezes por frustração, por querer exibir algo que não têm... cuspir no chão é um sintoma de complexo!!!

Também já vi mulheres cuspirem no chão mas é muito raro e geralemnte pertencem a classes mais baixas e menos cultas.

Bom, agora falando de leituras, acabei de por um post a perguntar quem lê mais mais em Portugal, homens ou mulheres? Está aberta a participação...

Um beijinho!!!

Chama Violeta disse...

...e que o vento possa levar-lhe uma voz que lhe diz que há um Amigo ou Amiga em algum lugar do Mundo
desejando que você esteja bem!!!
Para ti amigo que conheço e para ti amigo que não sei quem és,um Feliz e Mágico 2007 !!!

Flor de Tília disse...

Gostei muito do seu post. Desde os corvos de Amsterdão, aos corvos que acompanharam o corpo de S.Vicente, padroeiro de Lisboa, na sua viagem desde o Cabo de S. Vicente à capital, e que constam na bandeira do município, até ao Leitão de Barros, cronista e realizador de cinema. Fiz uma viagem no tempo e parei nos escarradores das barbearias, objecto que não podia faltar em nenhuma delas até ao som abominável de que se fazia preceder a sua chegada, vindos das entranhas dos respectivos proprietários. Recordo, muitas vezes essas "antiguidades" com um asco que quase me faz revirar o estômago.
Gostei do post mas também , e muito, da imagem que o acompanha.
Bom Domingo!
Beijinhos

por um fio disse...

Muito interessante! E este texto devia ser de leitura obrigatória várias vezes em vários níveis do ensino....
Ah! Mas adorei a tua aguarela!
Está fantástica! Linda de morrer!

Diafragma disse...

Espectacular aguarela, parabéns!
Quero mais.

bettips disse...

Conseguiste, apesar da leveza da tua pintura, dar-nos o pesadelo de certos hábitos tão nojentos. Lembranças que ocorrem, especialmente quando se convive com gente mais civilizada! Como sempre, as tuas recordações levam-nos longe! Um abraço

M. disse...

Belíssima a tua aguarela. Delicioso o texto.
E agora conto-te uma história que se passou com uma tia minha, há alguns anos. Caminhava ela pela rua no seu vagar e eis que se vem depositar sobre uma das suas pernas um escarro, atirado da boca de alguém encostado a uma porta. Pois não é que ela se vira para o homem e lhe diz, com o seu ar convincente e determinado: - Limpe! E ele limpou...

Vitor Lopes disse...

Um hábito puramente profissional????

saisminerais disse...

Ola Teresa
Muito obrigado pela tua gentil visita, gostei dessa do companheiro da poesia...
Verdade verdade é que o desafio que aqui colocas é um problema de falta de cultura, e é obvio que já vi.
Verdade tmbem é que te desejo um bom ano de 2007.
Beijos

por um fio disse...

ahahah!
Também gostei da história da Fotoescrita! :)
Onde andas rapariga?

por um fio disse...

Ah tinha-me esquecido de te dizer que tinha cáq vindo só para ver de novo a tua aguarela! :)
Parabéns! Está linda!
Continua! Que vais bem!