sábado, março 18, 2006


AS NINFAS
Tinha 15 anos e absoluta e total proibição de sair de casa á noite.
Mas tinha também um primo, em quem meus pais confiavam incondicionalmente, e com o qual me deixaram ir a um jantar de intelectuais. Depois de muitas palavras incompreensíveis para mim à época, e alguns copos de vinho, um falecido crítico de Arte, em particular de Dança, cujo nome, como algumas outras pessoas que a seguir mencionarei não direi, propôs que fôssemos todos a um bar nas Avenidas Novas propriedade de um actor, que por coincindência era casado com uma antiga professora de bailado minha. Acabaram divorciados, permaneceram grandes amigos, mas ele era irremediávelmente homossexual, o que nunca deu muito jeito para alcançar um casamento feliz e duradoiro!
Eu nunca tinha bebido alcóol antes, e os dois ou três copos de vinho já me tinham deixado uma ligeira névoa em volta da realidade, contudo, não a suficiente para ter esquecido até hoje, o que a seguir presenciei.
Um toque na porta que fez acender uma luz azul, despertou-me a curiosidade adolescente, e voltei-me para ver quem iria entrar.
Quase caí do banco onde estava sentada quando vejo entrar o Rudolfo Nureyev seguido por meia dúzia de jovens rapazes, todos, e incluíndo ele, vestidos com túnicas transparentes, collants, e coroas de louros. Pensei de imediato:
- Quem me mandou a mim beber vinho! Já estou a ter um delírio!
e cochichei para o meu primo: É mesmo ele?
Ele confirmou com um discreto aceno assentivo de cabeça e fez-me sinal com o dedo sobre os lábios para nada dizer.
Calei-me sim, mas olhei-o directamente nos olhos com um olhar que deveria ser no mínimo esbugalhado de espanto e admiração. Tinha-o visto nas vésperas a dançar no S. Luis com a Margot Fontaine, no palco parecera-me completamente inatingível, qual deus voando sobre montes e riachos, e agora estava diante de mim, sorrindo-me e enviando-me um leve beijo com a ponta dos dedos.
Quedei-me sem ouvir nada do que se falava na nossa mesa a devorar tudo o que faziam.
O que se seguiu foi bem terreno e carnal, pois todos se tocavam cada vez mais na devida proporção dos copos que iam ingerindo.
Mesmo a parecer cada vez mais um bacanal, aquelas ninfas brancas de braços esquálidos, e mãos delicadas, nunca me pareceram raiar a obscenidade, era somente o prazer dos sentidos.
São quase 5 da manhã! - sussurou-me o meu primo ao ouvido.
Foi como se um estalar de dedos junto ao meu tímpano acontecesse.
Ai! Os meus pais vão-nos matar! - comentei mais alto do que devia, num pânico que me fazia tremer as pernas.
E saímos discretamente, sem que nenhuma daquelas figuras etérias e altamente embriagadas desse pela nossa ausência.
Claro que a chegada a casa não foi nada bonita, mas abstenho-me de a relatar para não provocar um aviltamento áquelas horas mágicas que vivi nessa noite iniciatica e longínqua.
Teresa David

5 comentários:

Fata Morgana disse...

Oh, que mulher sortuuuuuda!!!!!!!!!!!!
O Nureyev, se eu o tivesse visto, mesmo que fosse no palco a dançar, desmaiava de certeza.
Só vi os videos, e muitos bailados que passaram na TV, e mesmo assim, mudaram a minha vida para sempre.

Sabes, ele é uma personagem-referência para mim. Pouco me importo se era homossexual, e sei que era. Mas teve três amores com mulheres... "Amores", chamou-lhes ele próprio. Uma namorada Chilena; a Margot; e a Nastascha Kinsky; e... eu era pequena, ora bolas!
:)

Conceição Paulino disse...

mas k belos mmts "visuais" nos proporcionaste! e com...quase-deuses.
Bom f.s. Bjs e:)

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! disse...

amiga
vemo-nos em breve:) ?
gostei de a conhecer, um beijo

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! disse...

amiga
vemo-nos em breve:) ?
gostei de a conhecer, um beijo

Raquel Vasconcelos disse...

Bela imagem do espanto em que devias estar, e de toda a cena!





PS: Estava a ler o texto e a pensar na Fata... hahhah... e aqui está ela!