quarta-feira, abril 01, 2009

foto retirada da net
O FUNERAL

Ângelo olhou para o espelho e viu as longas melenas níveas a aflorarem os ombros.

Pensou:- Tenho de ir ao barbeiro!

E se bem pensou logo o fez.

Sentado na cadeira ao som da tesoura e do ligeiro ruído provocado pela queda dos flocos de neve, começou a pensar que a idade já avançava, a vida excessiva era de risco e que detestaria dar trabalho aos outros com a sua morte.

Com a cabeça mais leve, mas determinado, dirigiu-se de imediato a uma Agência Funerária que viu na mesma rua.

Bom dia, pode mostrar-me o catálogo dos vossos serviços fúnebres? - perguntou.

O empregado vestido de preto e com o cabelo repuxado para trás por gel extraforte disse: - É para senhora ou senhor, algum seu familiar?

Não, é para mim! - respondeu o Ângelo.

Embora com um ligeiro esgar de espanto, apresentou-lhe um enorme catálogo onde constavam caixões para todas as bolsas, desde os mais simples de pinho, até aos de madeiras nobres ornamentados com ferros brilhantes.

Após algum tempo de consulta o funcionário abordou-o para lhe dizer que teria de responder a um pequeno questionário:

Qual a sua idade?

Que ocupação tem?

Nesse preciso momento fez-se luz nos seus pensamentos e afirmou, olhando o homem directamente nos olhos: Poeta, e se como penso os poetas são imortais é descabido dar-lhe dinheiro a ganhar pois o mais provável é viver eternamente!

Boa tarde e passe muito bem!

Atônito, sem palavras ficou o vendedor com um braço no ar que paralisou e, o outro, agarrando o enorme cardápio da Morte.

Teresa David


16 comentários:

Bichodeconta disse...

Bela história, mas no original o final era ligeiramente diferente..A pintura está magnifica..Parabéns, gosto de ver que está bem..Seguramente não estará totalmente boa, mas tem optimo aspecto.. O resto o tempo se encarregará de melhorar na totalidade..Um abraço..

Licínia Quitério disse...

Imaginativo, sim senhora. E um humor fino. Gostei.

Beijinho.

bettips disse...

Vá lá que ainda não lhe tinha pedido o telemóvel, para lhe comunicar: "acabou de ganhar uma morte anunciada"!!!
A (e)ternidade/ternura dos poetas e a tua prosa solta e divertida.
Bjinho

Unknown disse...

Mais uma história bem contada!!!
Estou a imaginar aquelas tertúlias aonde estas e outras histórias eram contadas com muito humor e muitos "copos" à mistura...
Um abraço

Justine disse...

E não é que Ãngelo, para além de poeta era sábio?

Obrigada pelo teu bem-contar:))
E um beijinho

M. disse...

O melhor realmente é brincar com a senhora Morte...

Fragmentos Betty Martins disse...

._______querida Teresa




é realmente_______expectacular esta história!


acredito que isto possa mesmo acontecer:=)




beijO_____ternO
bFsemana

Luis Eme disse...

essa foi de Poeta!

abraço Teresa

Sineiro disse...

Humor negro!

Natural, o ar atónito do empregado da funerária.

Um abraço e a continuação de uma segura e total recuperação.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá, bela história...Espectacular....
Beijos

ASPÁSIA disse...

CHEIO DE IMAGINAÇÃO ESTE RELATO, ALGO SURREALISTA, MAS NÃO FÚNEBRE.
A POESIA É UM GRANDE ELIXIR, SE NÃO DA VIDA ETERNA, PELO MENOS DA ETERNA JUVENTUDE DE ESPÍRITO, QUANTO A MIM.

BEIJOCAS

Tozé Franco disse...

As histórias que por aqui se lêem estão cada vez melhes.
Um abraço e tudo de bom para si.

Jorge P. Guedes disse...

Bom Domingo de Festa!

Abusar da alegria, não da alimentação!

Um abraço.

jorge vicente disse...

há tanto tempo que não vinha cá, minha amiga! só hoje vi a história e achei-lhe uma delícia!!!

espero que tenhas passado uma Páscoa maravilhosa!!!!!


um grande beijinho
jorge

Isabel Fontes disse...

A Morte...a Eterna obscuridade que nos faz questionar tudo...Gostei da ironia e da leveza com que se brincou com a Morte, pois só assim se leva uma VIda a Sério! Gostei imenso, Parabéns!! Isabel Fontes

Arlete Piedade Louro disse...

As estrelas brilham com mais intenso fulgor
O sol sorri com sua dourada e rutilante chama
Os pássaros trinam com mais enlevo e ardor

Quando morre um poeta assim humilde e feliz
Transpora com ele sua arte para a eternidade
Nas rimas perfeitas de palavras que ele quiz
Deixar como legado de amor á humanidade

Vai poeta ocupar o teu lugar no céu guardado
Espera-te dos anjos todo o celestial esplendor
E de tua mãe a visão desse semblante amado
O aconchego do regaço, desse teu puro amor

Não morreste poeta, moras em nossos corações
Estás sempre aqui, nosso professor e mestre
Ensinando-nos em tuas eternas e belas lições
Como compor um poema que a isso se preste

Lembraremos teus exemplos de humildade,
Teus perfeitos poemas de fraternidade e amor,
Compostos de sentimentos, rimas e verdade,
Mas também por vezes, no peito alguma dor.

Arlete Piedade

Olá Teresa o teu blog foi-me apresentado por um amigo comum e a propósito deste teu texto que apreciei muito, recordei-me de um poema que compuz há anos dedicado a um poeta na data da sua morte física! Sim porque os poetas na verdade, são IMORTAIS! Beijos, Arlete Piedade