terça-feira, fevereiro 27, 2007

Gato escondido com o rabo de fora
Menino estás á janela....

Preto no Branco


INTERLÚDIO


Enquanto continuo a escrever as minhas histórias aqui ficam mais umas imagens do meu novo companheiro.
Teresa David-fotos tiradas por mim






domingo, fevereiro 25, 2007


O DIDON
Comecei a trabalhar como bancária aos 17 anos, em plena época que a mini-saia era o furor máximo nas meninas, e arregalar de olho nos homens.
Como eu não era nada de deitar fora, ouvia piropos e recebia olhares de desejo com bastante frequência. Entre esses mirrones incluía-se o Didon, velho cauteleiro, que do alto do seu 1,58, derramava um olhar líauido, de evidente abuso de álcool, sobre as minhas pernas, sem contudo, nunca ter ousado dizer nada.
Trabalhava eu no r/c da Rua dos Sapateiros , no BPA, e o Didon ia amiúde até ao balcão para nos vender cautelas.
Nada disto teria nenhuma graça ou algo de especial, se não fosse o facto de ele também ser conhecido pelo Tenor, por entoar árias de Opera com uma voz estrondosa e afinada, que dificilmente pareceria possível sair daquele corpo franzino, tapado por um fato cinzento que brilhava de coçado, com a sua baixa estatura, onde apenas se destacavam a vivacidade do olhar, nuns olhos raiados por uma vida de muitos anos de dificuldades, e noites possivelmente mal dormidas, saber-se-ia lá onde, o sorriso maroto, mas nunca de homem vulgar, que mantinha aberto no rosto, guarnecido por uma cabeleira extremamente fina de fios grisalhos.
Ninguém jamais lhe conseguiu arrancar onde habitava e qualquer história da sua vida, mas a sua imagem permaneceu-me bem viva até aos dias de hoje, pois era extraordinário como papagueava ora o Barbeiro de Sevilha, ora a Traviata, sua ária preferida, usando sons que se aproximavam aos idiomas das mesmas, mas que eram completamente inventados, pois nunca aprendera as letras, nem sabia nenhuma língua estrangeira.
E era fácil que ele cantasse, essas, e outras árias, bastava dar-lhe uns trocos para ir beber o carioca de limão, bebida que passou a consumir, quando se divorciou dos copos de tinto, mas que de uma forma muito singular o deixavam igualmente um pouco toldado, ao ponto de imediato começar a entoar o seu canto.
Sempre me fez espécie o nome que ostentava, mais alcunha do que nome próprio certamente, mas mesmo que insistíssemos em saber o seu verdadeiro nome, ou fosse o que fosse sobre a sua vida, respondia sistematicamente: Didon chega!
Um dia estava no café, a beber a minha bica, quando ele entrou, e pediu o seu carioca de limão. Foi então que descobri que o mesmo não era a bebida inocente que ele nos fazia crer, pois levava um temperozito de bagaço, o que provocava que ao cabo dos vários que ia bebendo ao longo do dia, lá pelas 6 da tarde, os seus sapatos rotos, donde os mindinhos já quase saltavam, fossem palco de bailado um pouco irregular daqueles pés cansados de palmilhar a cidade.
Teresa David-foto da baixa por mim tirada

terça-feira, fevereiro 20, 2007


O SEMPRE NOIVO OU PINTOR DA NOITE
Nunca uma personagem se me manteve tão nítida na memória como o sempre noivo, ou pintor da noite, alcunhas que tinha, e lhe escondiam o verdadeiro nome, que era Arnaldo.
Embora fosse homem de 1,75m, pareceu-me um gigante, na primeira vez que o vi, nas suas deambulações diárias, pois eu não teria, nessa altura, mais de 10 anos.
Quando deparei com aquela figura de tez lívida, vestida de fraque, sapatos de verniz reluzentes, cabelo repuxado para trás com brilhantina, que lhe dava um tom negro asa de corvo, já com evidentes entradas, cara esfíngica, onde nunca foi possível vislumbrar um sorriso, camisa de uma alvura imaculada, que ainda realçava mais a sua palidez, e segundo constava, seria sua mãe que a engomava para se manter isenta de vincos, com aquele ar de ter sido acabada de comprar, fiquei embasbacada.
Nas mãos o bouquet de rosas brancas.
Começava a sua caminhada diária no cimo do Chiado, entrando na Brasileira, local que já eu frequentava com meu pai, e tive o prazer de privar com o Almada Negreiros e José Abel Manta, que se sentavam invariávelmente na mesa mais próxima da porta de entrada, onde mantinham um diálogo irregular, pois o Almada era de poucas falas, cerrando a cara de castanha pilada, encimada pela boina basca, que lhe tapava os cabelos grisalhos, enquanto o Manta, mais falador, relatava acontecimentos, com acutilância e bom gosto.
Á sua entrada erguia-se um coro em surdina, quase em uníssono, que dizia entre dentes:
LÁ VEM ELE!!!!
E o noivo, sempre com passo apressado, irrompia por ali adentro, ia até ao fundo da sala, sempre vociferando palavras ininteligíveis, e na mesma pressa voltava para trás para continuar o seu caminho, sempre a falar alto, quase a rebolar pela Chiado abaixo até ao Rossio, onde iria entrar no Nicola para fazer exactamente o mesmo ritual.
Com a curiosidade típica da minha idade, aquele comportamento bizarro, provocou-me tal curiosidade, que amiúde o seguia em todo o seu percurso, discretamente, pois temia que descobrisse a minha espionagem, e me agredisse, na tentativa desesperada de entender as palavras doridas lançadas ao vento em decibéis de amargura.
De noite ninguém jamais o viu, pois ficava sempre em casa a pintar os seus óleos da cidade, todos com luz nocturna, e que sempre me pareceram versões escuras das aguarelas do Carlos Botelho.
Tinham qualidade, e várias exposições fizeram da sua obra.
Até que um dia alguém finalmente me explicou:
Sabes, ele estava para casar, e a noiva morreu dias antes do casamento. Ele amava-a tão intensamente que enlouqueceu!
Daí aquela voz de revolta e irrequietude que lhe ficou até ao fim dos seus dias.
Teresa David- foto de T.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007



O CARLOS DOS JORNAIS

(1ª historieta de uma série que me proponho fazer sobre figuras com as quais me cruzei ao longo da vida por Lisboa)

Conheci-o já na última década da sua vida, quando ia comprar a minha dose de cigarros diária ao seu quiosque.

Habitualmente era sua mulher, franzina, baixinha, enrugada, mas com um aspecto doce e paciente, que mos vendia.

A ele, encontrava-o, logo de seguida, no café defronte do edifício onde trabalhava, em pleno Rossio, mas cuja entrada do pessoal se fazia pela Rua 1º de Dezembro.

E é aqui que se situa a graça desta historieta:

Sempre gostei de rimar, e quem melhor do que ele, figura típica da cidade de Lisboa, exactamente pela sua facilidade em dialogar em verso com as pessoas, para fazer uma desgarrada comigo?

Falo do Carlos dos jornais, que quem tiver mais de 50 anos e for de Lisboa, certamente se recordará, e que me cumprimentava todas as manhãs, dando os bons dias em rima, com palavras deste género:

Seja bem-vinda a Menina

Acabadinha de entrar

Com essa carinha linda

Ilumina o meu olhar!

AO QUE EU RESPONDIA:

Ora viva Sr. Carlos

Com a sua simpatia

Fico alegre e bem disposta

Logo no começo do dia

E se calhava reencontrarmo-nos outra vez durante o dia, lá ficávamos naquele diálogo versejante até á despedida, chegando a juntar-se pessoas em nosso redor para assistir.

Teresa David-foto da Net dum quiosque lisboeta

segunda-feira, fevereiro 12, 2007



S. VALENTIM


Meu coração já não bate,
Mas não parou de doer,
Por um Amor acabado
Que ainda me faz sofrer


Quieta cá no meu canto,
Vou afagando o meu gato,
Que morde e me arranha
Sem temor ou recato!



Valha-me S. Valentim!
Velador dos Amores
Para que possa por fim
Libertar os meus fervores


Ficarei mais completa,
ao cumprir os meus desejos
de abraçar um novo Amor
E cobri-lo com mil beijos
Teresa David






























quarta-feira, fevereiro 07, 2007











OS GATOS

Vai para 30 anos que partilho com algum felino a minha vida. Eles foram partindo, por doença sempre, e deixando sempre uma grata recordação da sua passagem junto de mim. Contudo, o Tiago, gato tigrado que apanhei junto ao Mercado da Ribeira, quinze anos atrás, e que cabia na íntegra numa mão, foi um companheiro muito especial pela sua rebeldia e ferocidade de gato selvagem, que os seis dedos em cada pata, comprovaram. Fez anteontem 15 dias que teve de ser abatido por estar com um cancro e diabetes, e algo se partiu em mim. Nunca uma perda felina me foi tão intensa como esta, de tal forma que senti absoluta necessidade de logo no dia seguinte ir em demanda de novo companheiro. E foi assim que conheci o Tição, gato de 3 meses, preto, como o nome que lhe dei bem indica, e que recolhi duma vivenda onde habitava bem tratado, mas com alguém que não podia continuar com ele.
Ao invés do Tiago, é meigo, embora na brincadeira bravia com as minhas mãos já me tenha deixado marcas visíveis.
Mas o que achei curioso foi a facilidade com que arranjei um gato preto, tendo-me sido dito no Hospital Veterinário onde procurei encontrar algum, que ainda existem muitas pessoas que detestam gatos pretos, chegando ao ponto de me advertirem para não o deixar sair de casa para não ser assassinado.
Moral da história: AS SUPERSTIÇÕES AINDA ESTÃO BEM VIVAS NESTE PAÍS!
Teresa David- fotos do Tiago e do Tição

sexta-feira, fevereiro 02, 2007



É DIA DO MEU ANIVERSÁRIO

02 de Fevereiro

E aqui faço um tchin tchin com todos os que me têm visitado e acarinhado ao longo da existência do meu blog.

Teresa David