terça-feira, abril 14, 2009

foto retirada da net


LE ROUGE


Entre a desistência não desejada


o tinto ressurge,


com o branco a desfazer-se em cinza.


O vidro tinto pelo néctar


a palavra que se diz


ou balbucia


A vida paralela


de quem deseja devorá-la.



Teresa David



LIQUIDO E ROSAS


Nos copos despejados


a cumplicidade cresce.


Enfeito-me de ar e gelo


praticando o frio


no morder do sorvete.


A cumplicidade continua


nas 21 rosas


que me tombam no regaço.



Teresa David





quarta-feira, abril 01, 2009

foto retirada da net
O FUNERAL

Ângelo olhou para o espelho e viu as longas melenas níveas a aflorarem os ombros.

Pensou:- Tenho de ir ao barbeiro!

E se bem pensou logo o fez.

Sentado na cadeira ao som da tesoura e do ligeiro ruído provocado pela queda dos flocos de neve, começou a pensar que a idade já avançava, a vida excessiva era de risco e que detestaria dar trabalho aos outros com a sua morte.

Com a cabeça mais leve, mas determinado, dirigiu-se de imediato a uma Agência Funerária que viu na mesma rua.

Bom dia, pode mostrar-me o catálogo dos vossos serviços fúnebres? - perguntou.

O empregado vestido de preto e com o cabelo repuxado para trás por gel extraforte disse: - É para senhora ou senhor, algum seu familiar?

Não, é para mim! - respondeu o Ângelo.

Embora com um ligeiro esgar de espanto, apresentou-lhe um enorme catálogo onde constavam caixões para todas as bolsas, desde os mais simples de pinho, até aos de madeiras nobres ornamentados com ferros brilhantes.

Após algum tempo de consulta o funcionário abordou-o para lhe dizer que teria de responder a um pequeno questionário:

Qual a sua idade?

Que ocupação tem?

Nesse preciso momento fez-se luz nos seus pensamentos e afirmou, olhando o homem directamente nos olhos: Poeta, e se como penso os poetas são imortais é descabido dar-lhe dinheiro a ganhar pois o mais provável é viver eternamente!

Boa tarde e passe muito bem!

Atônito, sem palavras ficou o vendedor com um braço no ar que paralisou e, o outro, agarrando o enorme cardápio da Morte.

Teresa David