terça-feira, outubro 30, 2007


EL CORDOBEZ
Quem já me conhece sabe da desmesurada afeição que nutro pelos felinos. Portanto, não achará estranho que tenha arranjado mais um amigo de quatro patas por terras de Espanha.
Logo no segundo dia da estadia em Córdoba deparei no Parque com um gatarrão de pêlo claro e olhos azuis água límpida, que adoptei, subornando-o com queijo e fiambre, iguarias que sei eles gostarem deveras.

Claro, que de imediato se tornou meu incondicional companheiro, dormindo á porta da autocaravana. Estava sempre presente á minha espera, na hora do meu despertar, que saudava com um olhar intenso, e, guloso também, de bom dia!







Acabou por também me fazer companhia nos fins de tarde da minha escrita, em que se sentava e dormia uma sesta tardia ou noite prococe, na cadeira junto de mim.



A pouco e pouco foi ficando mais afoito, e, certamente, se não o tivesse impedido teria coexistido portas adentro comigo. E como aquele seu olhar directamente para mim me derretia!




Com a plena convicção que possuo de que os gatos são bâlsamo para o sistema nervoso e protectores dos nossos momentos tristonhos, o El Cordobez, nome com o qual o baptizei, em honra á cidade onde com ele me cruzei, acabou por ser um companheiro felpudo que até á despedida nunca deixou de me dar marradinhas afectuosas e esticar o seu pescoço gordo para que o acariciasse na cabeça.


Curiosamente esta história trouxe-me á memória outro gato com quem convivi em Granada, quando lá estive, com o meu filho mais novo, 10 anos atrás. Era siamês, extremamente meigo e vivia no Hotel onde fiquei. Todas as noites me arranhava a porta. Deixava-o entrar e vinha dormir enroscado no meu pescoço. O meu filho, que também gosta muito de gatos, então com 13 anos, mal chegávamos de passear não deixava de ficar um pouco a brincar com ele. Ficam aqui as imagens que documentam esse outro bichano, embora a minha foto tenha sido tirada á traição enquanto dormia.


Em suma, da Andaluzia guardarei sempre, a par da beleza das cidades, as imagens desses felinos que tão ternamente se aninharam na minha memória.





Teresa David-fotos tiradas por mim





quinta-feira, outubro 25, 2007

CÓRDOBA

A chegada a uma cidade de uma escala bem maior do que as outras que deixara, provocou mais de um hora de procura do Parque de Campismo local, porque. pura e simplesmente, não havia nenhuma placa identificativa. Quando por fim o localizámos, concluímos, que era dentro da cidade, e, bem perto da zona histórica. Como havia autocarro mesmo do outro lado da rua, tornaram-se fáceis as deslocações para as visitas ás belezas da cidade, que são imensas.
Mal entrei na parte velha senti a estranha sensação, não ímpar, uma vez que em Marrocos e Granada, anos atrás, havia experimentado essa sensação de arrepio, como se estivesse em casa, ou tivesse regressado ás origens.
Os espaços de influência árabe, a judiaria, as cores intensas libertadas pela joalharia que iluminava as monstras com os vermelhos granada ou azul turquesa, o cheiro intenso dos trabalhos de couro, manufacturados numa casa de rara beleza.
A caminhada continuava sem poder deixar de sentir os odores que envolviam a cidade. Dessa feita foi o cheiro forte emanado dos cachimbos de água, visíveis através de uma janela que a curiosidade me fez espreitar e fotografar. Sempre gostei de ferros forjados, cresci em casa de meus pais com alguns apontamentos deles, na Andaluzia, tive o privilégio de os ver em todo o seu esplendor por todos os lados onde os meus olhos pousassem. A sua robustez leve, no ferro esculpido, que consegue proteger as janelas e pátios dos invasores, mas deixar-nos ver quase integralmente toda a magnificência dos pátios revestidos a azulejos multicores, onde uma vegetação majestosa os torna em verdadeiros jardins interiores.
Seria completamente impossível para mim acabar a visita sem percorrer completamente toda a área da judiaria onde encontrei inúmeras referências judaicas, bem como, casas com pátios lindíssimos.

Ligo sempre as grandes cidades aos pombos, do que resulta já possuir uma colecção de largas centenas de fotos desses pássaros, mal amados por muitos, mas, que para mim, são bastante fotogénicos, logo, aqui fica a imagem de um. Digam lá se não tenho razão?



Teresa David-fotos tiradas por mim












domingo, outubro 21, 2007

AINDA EM PUNTA UMBRIA, OU OS MALEFICIOS DA VIDA CAMPESTRE,
E HUELVA

Gosto dos pinheiros que me abraçam.
Odeio os insectos que me tratam como acepipe,
me tornam em iguaria que devoram até á saciedade.
Gosto do cantar dos pássaros,
do marulhar das ondas, que se ouve,
vindo das profundezas do campo.

Mas sinto sempre, a mosca, mosquito, ou qualquer outro insecto,
beijando-me com uma intensidade tão excessiva,
que o meu corpo fica tatuado de feridas incómodas e visíveis

durante largos meses!

HUELVA

Numa terra sem grande graça como Huelva limitei-me a procurar as igrejas e Catedral, não por uma questão religiosa, assumo-me como uma descrente incondicional, mas sim, porque são os edifícios que têm maior grandiosidade arquitectónica, e, convenhamos, para quem gosta de fotografar como eu, algumas imagens belas para recolher.

Depois de ver a Catedral, ao andar a pé pela cidade deparei com mais uma prova da força da natureza. De uma parede de terra que tinha sido cortada para construção de uma estrada, brotou uma vegetação, que por momentos, me fez parecer, estar a passear num qualquer jardim botânico.

Finalizei a minha vistoria, ao deparar com uma pedra, que se encontrava num bairro desengraçado, mas que por si própria despertava a atenção de qualquer transeunte.


Teresa David-fotos por mim tiradas







quinta-feira, outubro 18, 2007

PUNTA UMBRIA

Embora tenha uma paixão por Espanha que me levou, ao longo da vida, a viajar amiúde pelas cidades que considero, grosso modo, belíssimas, nunca tinha passeado, qual caracol, em auto-caravana, recém-nascida, com tudo o que uma casa confortável tem direito.
Malgrado o Outono já ter destronado o Verão, a temperatura era amena, dando direito, ainda, a idas á praia e mergulhar na água morna repleta de algas benéficas para o corpo.

Entre dois belos e majestosos troncos a viatura-caracol se instalou. A disponibilidade do ritmo calmo de vida por aquelas paragens, fez-me regressar o prazer de confeccionar refeições com géneros frescos, comprados no mercado da terra, logo, os dias que por lá fiquei sempre comi em "casa".


Claro que não poderia deixar de ir deitar o olho á cidade, que nada de especial tinha, salvo a zona portuária, onde consegui recolher uma imagem bonita.

Teresa David-fotos por mim tiradas

terça-feira, outubro 16, 2007

ADRIANO

Hesitei em publicar estas memórias no dia em que se celebram 25 anos da morte do Adriano.

Contudo, como privei com ele cerca de dez anos, nos anos 70 e até á sua morte, particularmente na tertúlia de escritores, poetas, cantores, homens do cinema e outros, nos quais eu, anónima, me incluía.

O Adriano era um homem de poucas falas e muitos afectos. Absurdamente puro e ingénuo, tinha aquele olhar de quem nunca vai perder a inocência. Por essa razão, muitos, com poucos escrúpulos, o usaram .

Das vezes que o acompanhei nos concertos, que, graciosamente, dava pelo País, em nome de uma causa que abraçava com a sinceridade dos que ainda acreditavam que podiam construir um Mundo melhor, apesar da sua situação financeira não ser brilhante, quando a sua voz se elevava pelos ares, saíndo daquele corpo de urso de mel, uma qualquer forma de arrepio e êxtase nos invadia o sentir.

Infelizmente vários desencantos o levaram, como introvertido e tímido que era, a beber em excesso.

Fui testemunha numa ida a Santiago do Cacém com ele, sua mulher, o Manuel da Fonseca, autor de tantos poemas por ele cantados, que ía ser homenageado pela Câmara Municipal, os Trovante, ainda uns putos mal conhecidos, corria o ano de 1980, e outros escritores e poetas, de uma cena que se me colou á memória pelas piores razões.

O espectáculo seria só á noite. Todos nos juntámos num opíparo almoço servido com a mestria da cozinha alentejana e bem regado pelo vinho da região que faz estragos mas também nos remete para o Mundo eufórico da criatividade delirante.

A mulher do Adriano avisava-o amiúde para não beber mais porque iria actuar á noite. Mas a euforia de estar com amigos que gostava, confiava, fez com que não conseguisse parar.

O Manel foi dormir a sesta com a Hermínia, sua companheira, outros dar uma volta para desmoer, o Adriano, o Vírgilio e eu, ficámos.

O resultado foi desastroso, pois na hora de actuar, apesar de terem posto duas cadeiras no palco para se apoiar, o seu corpo agigantado balançava como uma folha ao vento, o que não obstou que tenha ainda conseguido lançar a sua voz única, em menos número de canções do que tinha programado, mas as suficientes para homenagear o seu amigo.

A partir dessa data, raras vezes o vi, salvo na Trindade, ou no João Sebastião Bar, habitualmente a beber, com uma tristeza liquída a inundar-lhe os olhos.

Quando ouvi a notícia do seu desaparecimento uma profunda tristeza me invadiu e relembrei a última vez que com ele estivera, em que tinha um adesivo sobre uma ferida feia e de aspecto duvidoso na cara, pouco falou e muito bebeu.

Teresa David-foto retirada da Net

segunda-feira, outubro 15, 2007










PÔR DO SOL EM ALCÁCER

O atraso dos preparativos da partida para Espanha provocara que a hora se tenha tornado tardia para sair do País. Daí, ter ficado a primeira noite, num pequeno parque em Alcácer do Sal, virado para uma planície verdejante, onde tive o privilégio de captar um dos mais belos pôr-do-sol da minha vida.

Os laranjas tornaram-se cor de fogo que a folhagem negra ateou, até á chegada do fantasma da lua cheia para me aconchegar no negrume da noite.


Teresa David-fotos por mim tiradas




DAS AVES


Atrás do pardal segui, em caminho saltitante.


Perdi-o, para além da árvore, onde o balão da criança aterrou e se prendeu, como decoração natalícia precoce.


Teresa David-foto tirada por mim


DAS ÁRVORES


Do tronco a força que me mantem de pé.


Das folhas, o esvoaçar, que o vento ou tempestade


podem levar para longe.



Teresa David-foto tirada por mim