sexta-feira, fevereiro 16, 2007



O CARLOS DOS JORNAIS

(1ª historieta de uma série que me proponho fazer sobre figuras com as quais me cruzei ao longo da vida por Lisboa)

Conheci-o já na última década da sua vida, quando ia comprar a minha dose de cigarros diária ao seu quiosque.

Habitualmente era sua mulher, franzina, baixinha, enrugada, mas com um aspecto doce e paciente, que mos vendia.

A ele, encontrava-o, logo de seguida, no café defronte do edifício onde trabalhava, em pleno Rossio, mas cuja entrada do pessoal se fazia pela Rua 1º de Dezembro.

E é aqui que se situa a graça desta historieta:

Sempre gostei de rimar, e quem melhor do que ele, figura típica da cidade de Lisboa, exactamente pela sua facilidade em dialogar em verso com as pessoas, para fazer uma desgarrada comigo?

Falo do Carlos dos jornais, que quem tiver mais de 50 anos e for de Lisboa, certamente se recordará, e que me cumprimentava todas as manhãs, dando os bons dias em rima, com palavras deste género:

Seja bem-vinda a Menina

Acabadinha de entrar

Com essa carinha linda

Ilumina o meu olhar!

AO QUE EU RESPONDIA:

Ora viva Sr. Carlos

Com a sua simpatia

Fico alegre e bem disposta

Logo no começo do dia

E se calhava reencontrarmo-nos outra vez durante o dia, lá ficávamos naquele diálogo versejante até á despedida, chegando a juntar-se pessoas em nosso redor para assistir.

Teresa David-foto da Net dum quiosque lisboeta

21 comentários:

Unknown disse...

Este recordar é Saudade, das pessoas que se conheceu e dos espaços que ficam na memória.

Bom fim de semana

Saudações

ZezinhoMota

MJ disse...

Querida Teresa:-)

Que ternura esta memória...:-))

Há pessoas que nos marcam para toda a vida, não é assim, Amiga?

Um beijo*

bettips disse...

Maravilha de conto/recordação! Ainda bem que vais fazer esse passeio e o partilhas aqui. Apontamentos de vida. Beijinhos meus!

ASPÁSIA disse...

CARA TERESA

ESTOU SEM TEMPO P LER ESTE POST AGORA,
MAS ERA P LHE DIZER
QUE OS VERSOS Q LHE DEIXEI NO POST ABAIXO SÃO UM LINK PARA O MEU POEMA "TESTAMENTO" QUE ESTÁ NO "JARDIM DE ASPÁSIA" E NÃO SEI SE LEU. EU TINHA GOSTO, PORQUE O CNSIDERO UM DOS MEUS MELHORES POEMAS.

BOM F-D-S

UM GRNADE BEIJINHO
:)

M. disse...

Que boa ideia, Teresa, esse teu propósito de nos ires contando histórias. Esta é muito engraçada.

Marta Vinhais disse...

Há memórias que ficam gravadas para sempre, exactamente porque agora isso quase não existe.
Dá um outro brilho ao dia...
Gostei muito, Teresa
Beijos e abraços
Marta

Paúl dos Patudos disse...

Olá Teresinha
Que engraçada a história do senhor Carlos dos jornais.
Sabes que aqui em Alpiarça nos anos 60/70 conheci também um senhor que vendia jornais e revistas ( o século ilustrado) .
Tinha uma banca pequenina e enquanto a esposa tomava conta da banca ele levava os jornais às grandes casas agricolas, por mão própria. E lá ia ele montado na sua pasteleira , com uma mola da roupa a prender-lhe a parte de baixo das calças para não ficarem entaladas na corrente da bicicleta.
São imagens que nos ficam na memória e que por vezes, como é o caso, relembramos com carinho.
O sr. Abrantes e a esposa já partiram só ficando o seu filho que ainda é vivo.
Bom fim de semana minha amiga
bjo
Ana Paula

Alexandre disse...

Nunca o Carlos dos jornais imaginaria que um dia alguém lhe dedicaria um texto... são pessoas como o Carlos dos jornais que dão sentido à vida, que nos lembram que há pessoas sensíveis e lindas por detrás dos «muros» por onde passamos todos os dias! Um bem haja para ele onde quer que ele esteja!!!

Um beijinho!!!!

DE-PROPOSITO disse...

Fiquei a pensar no António Aleixo. O gosto que tinha em dizer coisas em versos, ou melhor versejar.
Fica bem.
Felicidades
Manuel

Licínia Quitério disse...

Vê bem de quem te foste lembrar! Há tanto não me vinha à memória essa figura da Lisboa de outros tempos.
Lembras-te da senhora louca, sempre de chapéu e vestida de preto, que perdera o marido (ou um filho?) e que corria Lisboa sem parar?

Conta, conta...

Beijinho

Nilson Barcelli disse...

Fazes bem em registar aqui essas recordações de figuras típicas com as quais te cruzaste.
Não conheci o Carlos do jornais porque não sou de Lisboa, mas achei interessante a vossa forma de diálogo.
Beijinhos.

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Teresa

Histórias que se recordam, que fazem parte da vida - pessoas e lugares - são a riqueza que a memória guarda.

Beijo com ternura

isabel mendes ferreira disse...

Tereza...........


obrigada.


mesmo....



fico sensibilizada.


pela atençao....que me tem dado.



beijos.


(piano)




fotografia neo.romântica....
linda.


da saudade.

António Melenas disse...

Conheci muito bem Carlos do Jornais. Eu trabalhei nos escritórios da CP na Calçada do Duque desde 1955 a 1989. Ainda ele não tinha o quiosque. vendia na rua, à esquina da Rua 1º de Dezembro com as escadinhas do Duque, por iso o via a toda a hora. Tendo eu também propensão para versejar, também com ele troquei com algumas quadras. era um tipo muito brincalhão, mas muito correcto
Nós dois, somos portanto coevos e fomos vizinhos de trabalho. Bem pequeno é este mundo
Um abraço de boa vizinhança

MJ disse...

Bom dia, Teresa:-)

Passei para te desejar um óptimo dia de Carnaval e deixar um beijinho*

És uma mulher 5 estrelas*****

Titas disse...

Também eu trabalhava na Baixa, ia frequentemente ao 'Celeiro'. O Carlos dos Jornais estava na esquina, em frente. Também me dedicou algumas brejeirices. A minha resposta era invariavelmente a mesma: amanhã trago um caderno e escrevo os seus versos.

Hoje lamento não o ter feito.

Obrigada pelas recordações, amiga.

ASPÁSIA disse...

TERESA

O MEU PAI CONHECEU O CARLOS DOS JORNAIS. VIA O DESCER AS ESCADINHAS DO DUQUE (??) QUE IAM TER A 1º DE DEZEMBRO, A TARDE QUANDO SAIAM OS JORNAIS DA TARDE E OS ARDINAS VINHAM A CORRER COM ELES.
TB. SE LEMBRA DE ELE FAZER VERSOS,
EMBORA NÃO FOSSE CLIENTE HABITUAL DELE.

ENTAÓ A TERESA É COLEGA BANCÁRIA DO MEU PAI, QUE TRABALHOU NO ANTIGO BANCO DA AGRICULTURA, DEPOIS UBP E DEPOIS MELLO E HOJE MILLENIUM, NA RUA AUGUSTA ATE CERCA DE 1983.

BJINHOS

Anónimo disse...

Cara Teresa:
Descobri este belo conto numa busca que ando a fazer pelo Google, na esperança de encontrar uma foto do Carlos dos Jornais.
Conheci o Carlos dos Jornais em 1966, vendia ele na esquina da 1º de Dezembro com a Calçada do Carmo, era eu "moço de recados" numa famosa loja de gabardinas (há muito desaparecida) no nº 17 1º da citada rua, mesmo por cima do então Café Nacional, hoje supermercado de produtos naturais (ou talvez já não…).
Era uma grande figura da Lisboa dessa era, que tantas saudades me deixa, apesar da miséria em que vivíamos. Nesse tempo qualquer bairro de Lisboa era uma "aldeia", onde todos se conheciam. Via-se televisão na "leitaria", a troco de uma bica a 1$20, pela qual toda a gente pagava 1$50, deixando os $30 centavos de gorjeta.
A vida era mesmo muito ruim mas sinto uma saudade enorme do jogo das escondidas, por detrás dos poucos carros estacionados no Rossio, da apanhada e do polícia. Juntávamo-nos uma dúzia de maltrapilhos de pequenos homens que nunca foram meninos (como o ginete) e a baixa estava por nossa conta. O almoço, umas batatas cozidas às sete da manhã e embrulhadas em jornal para manter a temperatura, acompanhadas com uma lata de atum ou de sardinhas em azeite, demorava pouco mais de dez minutos a engolir. Depois corríamos a fazer o que não nos deixavam no resto do dia. Brincar! Subir a Costa do Castelo e brincar às escondidas dentro das muralhas (hoje paga-se 5€. Espero que sirvam para conservação do património) com os legionários sempre prontos para "molhar a sopa", se nos deixássemos apanhar…
Enfim, já me alonguei com histórias que já não voltam e eu só ando à procura duma foto do Carlos dos Jornais.
Beijos.

João Pedro disse...

Eu tenho uma foto do Carlos dos Jornais. é retirada de um disco, que ele próprio gravou. Uma raridade.

João Pedro disse...

Caro Atever, peço-lhe desculpa pelo meu esquecimento, mas claro que lhe faculto uma copia da foto, digitalizada e com qualidade.
veja o meu perfil e entre em contacto comigo, através do email associado ao meu blogue ( D. Camaleao).

Obrigado

Joao Pedro

João Tomaz disse...

Deixo-lhe uma imagem tirada em 1963, no estádio da Luz, de uma tarja presumivelmente da autoria do Carlos dos jornais
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=376128282412622&set=pu.107761465915973&type=1&theater