quarta-feira, fevereiro 01, 2006


UM MOMENTO
Raquel de olhos fechados na escuridão eléctrica, tentava furtar-se à sordidez das paredes desbotadas, nas quais as sucessivas camadas de tinta, davam matizes multicores, fluorescentes, e profundamente desagradáveis. O pequeno barril, agora vazio, recordava os últimos copos ali bebidos. Na estante improvisada de tábuas assentes em tijolos, repousava o único livro. No chão o candeeiro, luz-penumba, junto ao colchão. Beatas, muitas, espalhavam-se empestando a atmosfera. E Eurico...Eurico, belo, de cabeça helénica, grisalha, a repousar no seu ventre elevado por cinco meses de gravidez. O silêncio ansiado era abruptamente interrompido, minuto a minuto, pela jogatina vigorosa, na sala de batota clandestina contígua ao quarto, dito independente. Lúcio, o dono da casa, após alguns (poucos) meses de fervor revolucionário, passados na reforma agrária, tinha trocado o labor matinal pelas noites buliçosas, arrecadando os incertos proventos ganhos "miraculosamente" no jogo diário. Ganhava sempre, pormenor importante a considerar.
Raquel tenta movimentar o seu corpo nu, dormente, enquanto Eurico lhe pergunta se está bem. Quando acabarão estes filhos da puta com o barulho? Qualquer dia ainda apanhamos com a polícia na cabeça! Tenho sede ... Eurico levanta o corpo branco, e com os olhos claros, míopes, a piscar, abre uma garrafa de espumante com grande alarido. O líquido escorre, inundando as pernas de Raquel, que em sobressalto se senta rápidamente no colchão. Os seios embatem no ventre dilatado, e os mamilos enegrecidos arrepiam-se com o frio. Enrolada em si própria, cabeça entre as pernas, longos cabelos descendo sobre os braços, estica a mão. Eurico segura-a, e ajoelhando-se envolve-a com o seu corpo. Os copos encardidos oscilam ao lado. E bebem, bebem até só restar a espuma no fundo da arrafa.
Raquel sente a cabeça a rodar. De novo se deita, coberta agora pela ternura de Eurico que a beija vagarosamente. "Mãezinha coça-me a cabeça". As suas mãos pousam nos seis inchados de Raquel que novamente se deixa arrastar para o prazer.
Só quero tocar esta tua pele tão doce. Cheira bem! O teu ventre mex4e. Como será? E irá crescer? Deixá-lo-ão crescer? - pergunta-se Raquel. Vou espreitar. E escorregando afasta ternamente as pernas de Raquel. No meio delas fica a cabeça. Sossegada. Estando ali apenas. As mãos continuam a afagar o corpo. O jogo acabou. Finalmente o silêncio. E a tontura. E o momento. O cansaço. Jánão é preciso sexo. Calmos adormecem. Raquel como desfalecida. Eurico afogado nas suas carnes macias.
Teresa David - quadro de Otto dix - A mulher grávida

6 comentários:

Raquel Vasconcelos disse...

Consegue imaginar-se toda a cena... Impressionante, de um realismo "especial".

Bjs

mixtu disse...

Pareceu-me real...
adorei mais uma vez a pintura.
saludos

Teresa David disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Conceição Paulino disse...

melhoras. Bjs e um bom domingo desejando k ontem tenha tido um sabor especial para comemorar.
bjufas doces

Conceição Paulino disse...

acabei de te DESAFIAR.Passa lá por casa para saberes mais. Bom domingo.Bjs de luz e paz

Conceição Paulino disse...

tem uma boa semana. bjocas de luz e paz ;)