
CAMACHO COSTA
Ao ver toda a semana na SIC, o anúncio de um programa a ir para o ar no dia que fará 5 anos sobre a morte do Camacho Costa, veio-me á memória, algumas vezes que com ele me cruzei, bem como, alguns espectáculos onde entrou que me marcaram por razões diversas.
Ao ver toda a semana na SIC, o anúncio de um programa a ir para o ar no dia que fará 5 anos sobre a morte do Camacho Costa, veio-me á memória, algumas vezes que com ele me cruzei, bem como, alguns espectáculos onde entrou que me marcaram por razões diversas.
A primeira vez que o vi pisar as tábuas, era eu ainda adolescente, foi ao lado do Raul Solnado, no “Vamos Contar Mentiras”, comédia hilariante, embora prefira teatro dramático.
Muitos anos mais tarde, mais exactamente em 2001, revi-o no palco a trabalhar junto dos Artistas Unidos, companhia que muito prezo, que tem ao leme um dos homens de teatro que mais admiro, o Jorge Silva Melo, que aprendi a gostar do seu trabalho desde o tempo que fazia parte, com o Luís Miguel Cintra, do teatro da Cornucópia. Estava em cena – OS IRMÃOS GEBOERS de Arne Sierens, encenado pelo Jorge Silva Melo. Aí era patente que o Camacho, conhecido mais como comediante, era também um óptimo actor dramático.
Algumas vezes estive com ele em bares de Lisboa, mas nunca trocámos palavra, até um dia, em que fui com o meu filho ver o Bolero, salvo erro estávamos em 2002, encenado pelo José Carretas ao Teatro Villaret.
Como gosto sempre de ir cedo para todo o lado, e, de preferência jantar fora, quando vou a algum espectáculo, entrei num restaurante logo ao virar da esquina, que bem conhecia, pois, trabalhava nessa altura na Fontes Pereira de Melo, o que me levara a já ter comido em quase todos os restaurantes da zona.
Mal entrei, abriu-se-me a boca de espanto ao deparar com todo o elenco da peça que ia ver a jantar. Entre os comensais estava uma actriz com quem privara bastante nos anos 70, e que não via desde essa altura, o que provocou um abraço efusivo entre as duas e um começar de relembrar de momentos antigos bem vividos e inesquecíveis.
Como ela nada sabia da minha vida desde essa altura fiz uma síntese de todos esses anos, nomeando de quem era filho o adolescente que me acompanhava.
Foi então que as antenas do Camacho Costa e do José Raposo, que também faziam parte do elenco se viraram do bitoque que tinham no prato, para mim, e, quase em uníssono, disseram: Ah mas conheci muito bem o seu marido!
Conversa puxa conversa, ajudada pelo José Carretas que entretanto aparecera, e, esse, sim, conhecia há bastante tempo, acabei por me sentar junto deles.
Constatei que o Camacho, além de bom actor, também era homem de grande cultura, bastante interessado na divulgação de obras de autores que gostava e que estavam por estrear, além de ser daquela simpatia natural, impossível de forjar. Daí, quando eu disse possuir em minha casa um inédito do pai do meu filho, os olhos lhe terem brilhado e dito: - Ah! Gostaria tanto de levar isso á cena!
Respondi: - Por mim não tenho problema nenhum!
Combinei, então passar pelo Teatro noutro dia para lhe entregar uma cópia do original.
Entretanto a hora do espectáculo chegou. Estava muito curiosa, porque por volta dos 20 anos, ainda tinha apanhado o Bolero com os resquícios do carisma que o tinham tornado o Bar de Alterne de eleição dos escritores e poetas. Com eles passara muitas noites de insónia, a ouvir as histórias delirantes dos criadores, a olhar as mulheres, a maior parte já prestes a murchar, e, particularmente, a ver a responsável pela casa, já com os seus sessenta e tal anos, que tinha uma enorme cumplicidade com todos os clientes, mas que estava sempre de olho nas suas meninas.
Contaram-me que nos anos 50 e 60, no final da noite, depois do convívio da palavra, de ouvir a orquestra de cegos, todos subiam ao andar de cima para comer peixe fresco, antes do regresso a casa.
Para mim, a recordação que se me colou á pele foi de uma mulher de seios agigantados, formas voluptuosas, cabelos negros, que numa dessas noites, em que viu que eu estava esgotada, com os olhos a entrelaçar-se no nariz, me encostou ao seu colo, proporcionando-me um sono aconchegado e maternal.
Mas voltando ao outro Bolero, gostei da peça, embora não tenha reconhecido o espaço que habitara.
No final, como me tinham convidado ao jantar para ir aos bastidores, ainda estive lá com o meu filho mais de uma hora em conversa amena com os actores e encenador.
Resta dizer que fiz as cópias da peça inédita, mas por um motivo ou outro, atrasei-me a ir ao teatro, a peça saiu de cena, o Camacho entrou na derradeira espiral de trabalho em TV, que creio, só assim, fez com que passasse a ser um actor conhecido por todos, pois, sem dúvida, neste País um actor para ser reconhecido tem de passar pelo pequeno ecrã.

Três meses antes de falecer ao ouvi-lo ser entrevistado, onde evidenciava uma rouquidão enorme, um arrepio percorreu-me a espinha, levando-me ao ano de 1994, em que o Pai do meu filho também enrouqueceu. Três meses depois faleceu de cancro pulmonar, tal e qual como aconteceu ao Camacho Costa.
TERESA DAVID-fotos recolhidas na net
TERESA DAVID-fotos recolhidas na net