segunda-feira, julho 14, 2008



RODIN E CLAUDEL

A viagem mais fatigante que fiz até hoje foi a ida a Paris. Passo a explicar porquê: A ânsia de visitar todas as ruas que pertenciam ao meu imaginário de devota da cultura francesa, nomeadamente dos existencialistas, em particular da Simone de Beauvoir, mais do que o Sartre, que mesmo assim li grande parte da obra, dos surrealistas, com destaque para o Antonin Artaud, a pintura, os museus. Enfim, tentei em 5 dias ver tudo o que um mês não daria para fazer.
Depois de me matar um dia inteiro pelo Louvre, Museu Picasso, Orsay, dirigi-me ao Museu Rodin, levando dentro de mim um certo sofismo em relação a ele, por achar que destruiu completamente em termos humanos a companheira, Camille Claudel, que me parecia ter tido muito mais talento e sensibilidade pelo que já tinha visto em imagens da sua obra.
A obra dele começa logo a evidenciar-se nos jardins bem tratados e com o gigantismo e a força necessárias para não se ficar indiferente.

Dentro do edifício vi a famosa escultura do “beijo”, "as mãos" em posição que mais pareciam um pássaro a levantar voo e o incontornável “pensador”.
Contudo, ao penetrar na sala onde se encontra a obra da Claudel, quase tudo o que tinha visto antes se ofuscou com a dureza de uma verdade nua e crua de algumas das pequenas esculturas que vi, a par com a beleza das formas de outras.
Perante a constatação de tanto talento e sensibilidade confirmei dentro de mim, que, muito possivelmente, se tivesse sentido diminuído perante a obra da companheira e isso o tenha levado a interná-la num hospício até á morte. Mas também pode ser tudo uma enorme aleivosia e ela ter sido alguém realmente com problemas.
Resta a obra e tentar através dela traduzir o que aqueles seres terão sentido na sua passagem neste Mundo.
Falar deste casal fez-me recordar um caso que julgo, em termos de competitividade entre os dois ser idêntico, que será o Almada Negreiros e sua mulher Sarah Afonso, cuja obra me pareceu sempre de enorme qualidade mas ofuscada pelo marido. Mas isso é outra história, pelo que por aqui me quedo.

Teresa David

14 comentários:

Luis Eme disse...

bela viagem artística por Paris...

em relação a Sara Affonso, foi ela que decidiu parar (li nas suas memórias), por várias razões, inclusive, desmotivação...

embora as mulheres sejam por natureza, quase sempre mais generosas, prontas a abdicar de muita coisa, pela família...

Bjs Teresa

Bichodeconta disse...

Maravilhosa viagem apesar do cansaço..Diria eu como é meu hábito, que a Teresa á noite estava , saudávelmente cançada!Mas Paris prende-nos pela beleza, pela cultura, pela gastronomia que tal como a nossa é riquissima embora bem diferente..(Aqui pra nós) Eu prefiro a Portuguesa, ou melhor, tem dias.. Só que este é o tipo de viagem que me apetece andar sózinha, sem obedecer a ritmos ou horários.. E a saude??????Beijinhos, ell

Paula Raposo disse...

Tens razão. Poderemos pensar que de certa maneira, algumas vezes o talento fica ofuscado por outros. Restam as obras à nossa consideração. De simples mortais. Muitos beijos de recuperação.

Justine disse...

Quantas mulheres, ao longo da História - e também porque esta é escrita por homens - não foram fria e premeditadamente anuladas, para que o homem ao seu lado não fosse ofuscado...
Ter esta consciência já é um passo para a mudança!
Beijo

bettips disse...

A beleza de pormenores da Camille também me fez pensar/olhar dum modo idêntico! Todavia, amo demasiado Rodin ...o que me ofusca um pouco a "lucidez". Porque abomino imaginar que poderia ter sido assim...
Belíssima lembrança esta viagem que espero te anime a muitas mais! Beijinho

ASPÁSIA disse...

AMIGA

TIRANDO O FAMOSO "BEIJO" E AS "MÃOS" POUCO CONHEÇO DE RODIN, A NÃO SER O NOME. BELAS FOTOS AS QUE AQUI DIVULGAS DESSA JORNADA INESQUECÍVEL A PARIS.
POR COINCIDÊNCIA, TALVEZ, O POST TEM A DATA DO 14 JUILLET,DIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA.
QUANTO A CAMILLE CLAUDEL, NÃO VI O FILME, MAS SEI QUE O SEU FIM FOI TRÁGICO.
TB. HÁ EXEMPLOS DE MULHERES NA MÚSICA, OFUSCADAS POR HOMENS - FANNY MENDELSSOHN POR SEU IRMÃO, ALMA MAHLER E CLARA SCHUMANN PELSO MARIDOS...

JÁ TE SENTIRES ANIMADA A ESCREVER E A POSTAR TANTAS FOTOS, É BOM SINAL!

BEIJINHO GRANDE

O Profeta disse...

Paris, meu deus que saudades...

O começo!
Uma viagem no Mundo presente
Será que o vento açoita as árvores
Ou são elas que cedem ao embalo docemente

Gostava que sentisses o embalo das palavras

Bom fim de semana


Mágico beijo

M. disse...

Também lá estive há uns anos de gratas memórias, Teresa. Tudo ali é bonito, desde o edifício inserido no jardim às obras de arte.
Gostei que te tivesses lembrado de falar deles, ambos com aquele dom maravilhoso de nos mostrar o mundo de modo tão belo.

rui disse...

Olá Teresa

Foi uma viagem cansativa, mas valeu a pena visitar todos estes lugares fabulosos.
Adorei este post!

Grande abraço

Jorge P. Guedes disse...

TERESA:

Nesse belo palacete que funciona como o Museu Rodin de Paris, pude ver a arte escultórica de um grande artista. Curiosamente, será por ser homem, ó deuses?!, nunca me debrucei sobre esse lado da vida do casal.
Fiquei desperto, agora, e aqui lhe prometo que na próxima viagem "à minha cidade" procurarei olhar toda aquela arte com olhos diferentes.
Seja como for, acho Rodin um escultor sem par; aquelas suas "mãos" ninguém esculpiu mãos como ele. E "As portas do inferno", que obra, meus senhores!
"O beijo" é, talvez, o mármore meu preferido.

Um abraço e a continuação de uma boa recuperação, Teresa.

Jorge P.G.

Júlia Coutinho disse...

Fizeste-me lembrar a minha ida a Paris que, apesar de ter tido o dobro do tempo, 10 dias, foi igualmente cansativa e fiquei com a sensação de que TUDO ficou por ver. Sobre a Camille, apenas uma pequena correcção: não foi Rodin quem a internou, mas sim a familia, a mãe e sobretudo o seu puritano irmão,o poeta Paul Claudel, que escrevia Odes a Franco e admirava Salazar, e que não aceitava a vida "impura" de sua irmã que, para além de se ter querido tornar artista individualizada do seu mestre, teve a rebeldia e a ousadia de ser Mulher, naturalmente, amando e vivendo com quem quis.
Digamos que Camille foi uma vitima do tempo em que viveu e da fragilidade que a atingiu quando foi rejeitada pelo homem que idolatrava, Rodin, que, obviamente, tb não levou a bem quando sentiu que a discipula o ultrapassava.
Ainda bem que estás melhor! Eu tive uma coisa parecida em Novembro/Dezembro de 2006, vi a morte tão proximo que ainda me pergunto como escapei...
dá mais noticias.
beijinhos

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Bela reportagem enriquecida com óptimas fotos aguçando assim o apetite...

Saúde e tudo de bom para ti.

Beijos

João Videira Santos disse...

Paris é, concerteza, o primeiro destino de quem sonha viajar e tem em mente "encher-se" de cultura. Há outras cidades, mas...Paris "é" o mundo que tantos protagonistas das artes legaram ao mundo

Menina Marota disse...

Olá, Teresa fizeste-me recordar agora a primeira vez que viajando com os meus Pais pelos Museus de Paris, detestei essa viagem! Anos mais tarde, adulta, voltei aos locais que tinha visitado e ADOREI!

Pois é... lembranças que me trouxeste de locais de memórias eternas!

Grata por partilhares estes momentos lindos, mas acima de tudo por te partilhares em memórias e momentos inolvidáveis.

Beijinho minha querida e que tudo esteja a correr bem com a tua recuperação.