quinta-feira, dezembro 13, 2007



O VAI-VEM


Dia 30 de Novembro fui para o aeroporto, esperar, ansiomente, a chegada do meu filho da Holanda.

Já se tornou banal para mim, por esta altura, passar horas infinitas no átrio de espera da Portela, que é um foco de gripes, que, invariavelmente, tenho, de cada vez que ele vem. Passo a explicar: os bancos alinhados em frente á zona donde saiem os passageiros, têm, por detrás a porta de saída para a rua, o que torna a zona extremamente desconfortável.

Mas, rever a cria acaba por ser mais importante do que o arrepio que logo me invade o corpo.

Nesta época, a recolha das bagagens torna-se bastante mais morosa, logo, tive de esperar mais de duas horas para vê-lo aparecer na porta larga.

Detesto esperar, assumo, mas detesto ainda mais ficar entediada, por isso, aproveito estas demoras para ir olhando em redor a movimentação de quem chega, de quem parte e de quem espera.

Desta feita, estava eu nas minhas observações quando vi aflorar á porta larga da saída da recolha das bagagens, um homem esquálido, com um saco de plástico na mão, com um aspecto que indicava sem margem de dúvidas, ser um sem-abrigo. Obviamente que as minhas antenas ficaram logo no ar!

Vi-o ir até á porta da rua, voltar a entrar e tentar ultrapassar a saída dos passageiros, o que é completamente proibido e uma inversão do habitual.

Um segurança foi ter com ele que nem abriu a boca, ficando estático em território intermédio entre a entrada e saída.

Para minha estranheza vi chegar outro segurança que cochichou algo ao ouvido do primeiro, tendo de seguida o sem-abrigo, de cabelo todo grisalho preso com um elástico e rosto percorrido por sucalcos de rugas, entrado novamente para a zona das bagagens.

Como, entretanto, vagara um lugar nas cadeiras, fui-me sentar, mantendo-me alerta ao seguimento do que se desenrolava perante o meu olhar.

Passados breves instantes ele voltou a sair, agora com dois sacos de plástico.

Durante o tempo que permaneci no local, consegui contar vinte entradas e saídas.

Como não gosto de histórias sem final feliz ou não, acabei por perguntar ao segurança o que o homem andava a fazer, ao que recebi a curiosa resposta:

Olhe, coitado, ele não tem onde cair morto, mas adorava viajar. Por isso, os meus superiores decidiram fechar os olhos e deixá-lo andar neste vai-vem que tanto prazer lhe dá, e a nós não nos incomoda pois entra mudo, sai calado, e, particularmente, não se mete com ninguém.

Domingo irei levar o meu filho ao aeroporto para regressar á Holanda, mas aí nem quero entrar, para não sentir mais de perto a ausência que ficará instalada em mim.


Teresa David-foto retirada da Net do Aeroporto da Portela

15 comentários:

Parvinha da Silva disse...

Acertaste! Os pais natais levam-me o tempo todo. Mas já não a partir de hoje (agora será apenas às escondidas, ou ainda me salta algum da residencial para a caravana em frente....).

Que aconchegadinha te sinto com o teu menino. E faz anos amanhã!

Parabéns para ele e para a mãe!
Parabéns!
Parabéns! e
Parabéns!

Lusófona disse...

Ai Teresa, nas minhas viagens ao Brasil o que mais me custa é a despedida da minha família.... um vazio... eu nunca soube lidar com esse sentimento que a despedida desperta em mim...

Beijinhos Querida e fica bem

p.s. acabei por ficar com pena do sem abrigo, ainda mais nessa altura do frio..

Conceição Paulino disse...

o mundo desfila raridades, perolas de dor, alegria, tristeza, humanidade, etc e poucos as vêem. Aind abem k continuas com os olhos abertos.
Parabéns a ambos e k seja um bom ano o ke o Chico ora começa. Forte abraço.
Tenho estado doente com uma amigdalite daquelas k nos deitam abaixo, com o tempo ensarilhado por "n" detalhes k se prendem ainda com o livro e com a net Vodafone k é uma coisa k não quer trabalhar, nem ligar-se e qnd o faz, horas insanas k me põem aborrecida pela inutilidade do tempo gasto, mas dizia: qnd o faz por norma o sinal é tão fraco k por vezes nem consigo abrir os sites, blogs ou ler e enviar correio. Uma chatice incomensur+avel. Nem imaginas as horas k levei para conseguir fazer o slide-show. Nem digo pois é tão irreal....

Bom,..., já estás bem da crise? Desejo k sim.

Parabéns
Bjs
Luz e paz

M. disse...

Comovente a história do sem-abrigo. Tantas histórias por detrás de tanta gente!
A companhia do teu filho... compreendo a saudade que ele te deixará de novo com a sua ausência. Mas ninguém pode tomar as nossas dores nas suas mãos, essa é que é a verdade.

Jorge P. Guedes disse...

Ora aí está o bom-senso dos responsáveis do aeoroporto a fazerem um homem feliz! Ainda bem!

Um abraço.

bettips disse...

Uma história incrível e que tu apanhaste tão bem, com essa tua sensibilidade curiosa de mundo. (Julgo que se ficar tolinha e sem abrigo, marcho para o aeroporto).
"...hoje é dia de festa, cantam as nossas almas...": tudo de óptimo para o menino ladino. Para ti, a paciência para esperar que venha, ou ires tu lá... Abraços amigos te deixo.

ASPÁSIA disse...

TERESA
AINDA BEM QUE ANDAS SEMPRE DE OLHOS E OUVIDOS BEM ABERTOS! DE FACTO, ÉS UMA EXCELENTE ANTENA RECEPTORA DO QUE TE RODEIA, DEPOIS RECICLAS OU COZINHAS OS INGREDIENTES Q APAMHASTE E TORNAS.TE ANTENA EMISSORA PARA NÓS...

TB. FOLGO Q, DADO O HOMEM NÃO FAZER MAL ALGUM, TENHA HAVIDO ESSA BENEVOLÊNCIA DE ALGUM SUPERIOR DA TAP, EM DEIXÃ-LO ANDAR NESSA CIRANDA, NESSA SIMPLES ILUSÃO Q O REALIZA, COITADO! AINDA BEM Q AINDA HÁ QUEM TENHA ALGUM CORAÇÃO, SE LHE DESSEM TB. ALGUMA COMIDA POR LÁ, SERIA AINDA MELHOR. TALVEZ, POIS DIZES TU Q ELE DEPOIS JÁ VINHA COM 2 SACOS...

ESPERO Q TENHA DECORRIDO EM GRANDE O ANIVERSÃRIO DO TEU "CHICO" (EM PORTUGUÊS E ESPANHOL)...

BEIJINHOS PARA AMBOS :)

FERNANDA & SONETOS disse...

Olá Teresa, passei e adorei o texto!!!
Deixo-te um abraço de carinho e amizade.
Fernandinha

rui disse...

Olá Teresa

O que uma mãe não suporta para rever o seu filho!

O eterno problem dos sem-abrigo.

Que tenhas um divertido fim-de-semana

Beijinho

Tozé Franco disse...

Há sempre histórias curiosas por trás de cada pessoa com que nos cruzamos.
Já tenho presépio e está no blogue.
Começou, oficialmente, a época natalícia aqui em casa.
Um abraço.

Paula Raposo disse...

Uma história triste que nos faz reflectir em muita coisa. Beijos.

Ana Luar disse...

Concordando plenamente com a Paula é realmente triste ver qualquer pessoa que seja nesta condição deprimente que é a alcunha de "sem abrigo" Doi ainda mais agregada à saudade de ver quem tanto amamos partir... do "abrigo" natural do nosso abraço.

Um beijinho Teresa e aproveito para deixar os votos de um Feliz Natal para ti e para todos os que amas.

Jorge P. Guedes disse...

Então, de passeio com o filhote, não?

Quis enviar um postal,mas como não tenho o teu mail...

BOAS FESTAS e um FELIZ 2007!

Jorge G.

Maria Clarinda disse...

O que dizer??? Jinhos muitooooo grandes e aproveita bem os momentos!

Ana Luar disse...

Neste Natal Teresa queria pedir-te um grande favor... Queria pedir-te que adoptes alguém, seja criança, velho ou alguém que precise de um abraço... Alguém para quem o Natal seria especial se tivesse um abraço, neste caso o teu abraço! É fácil Teresa... é tão fácil fazermos alguém feliz... Basta retirarmos um pouco de nós e comprar um mimo para alguém à tua escolha (alguém que realmente precise.)
Compra um presente bonito para uma criança pobre, pelo menos para uma ás vezes estes pequenos gestos tornam-se tão grandiosos como a felicidade estampada no rosto de quem ofertamos e ajuda-nos a esquecer tantos gastos desnecessários que fazemos, comprando supérfluos que não nos melhoram em nada a vida.

Era este favor que te queria pedir...
Afinal o Natal não deve ser apenas previlégio de alguns... Para que o Natal se estenda a todos... todas as nossas mãos devem estar unidas na solidariedade de um mimo.
Um beijo minha querida e os votos de um Santo e Feliz Natal junto de todos os que amas.

Tua sempre amiga Ana