domingo, agosto 19, 2007

O CASTELO


Com quinze anos meus pais não me deixavam sair á noite. Depressa percebi que de dia se poderia fazer tudo o mesmo que de noite se faz!
Tinha um grupo alargado de boas e cúmplices amigas, que me ajudaram a passar a adolescência de uma forma mais colorida.
Uma delas, a Filó, alentejana vivaça, que apenas vivia com a mãe, pois os pais se tinham divorciado, o que até nem era muito corrente acontecer por esses tempos, organizava, aos Sábados á tarde, bailes em sua casa, onde os estores estavam sempre semi-cerrados para dar o clima propício aos prazeres de púberes ainda virgens, mas com as hormonas aos saltos.
Como conhecia muitas pessoas na zona onde habitava, mais propriamente em Benfica, pessoas estas que também faziam estas matinés dançantes de despertar dos sentidos, um dia, clandestinamente como sempre, fui, acompanhada da minha amiga Maria Paulo, rapariga demasiado alta para a época, não particularmente bonita, mas cujo porte era chamativo, a uma dessas festas onde pululavam rapazinhos espigadotes, mais ou menos bem apessoados.
A Maria Paulo pertencia a famílias nobres completamente falidas, contudo o porte de grande senhora, apesar de ter a mesma idade do que eu, mantivera-se.
No meio dos machinhos sobressaia um rapaz de feições amalandradas, cabelo quase negro, altura média, cujo olhar trespassava o nosso corpo até aos ossos!
A Maria Paulo ficou deveras impressionada com ele. Dançaram, falaram. Novos encontros foram combinados.
Pelo meu lado engracei com um louro de olhos azuis aguados, que era sobrinho neto do Presidente Carmona, rapaz divertido. Não o vi senão mais uma ou duas vezes e, por mero acaso.
A partir daí, o assunto principal de conversa comigo da Maria Paulo, era o Castelo Branco. Dizia: Ele é finíssimo. Um Castelo Branco!
Eu respondia: Tu, e a mania das fidalguias! Isso não interessa assim tanto. Se gostas dele é o que é importante.
Passaram uns meses, poucos, ela apareceu-me um dia de semblante acabrunhado. Ao perguntar-lhe se tinha acontecido algo de grave, respondeu-me: - Aquele estúpido andou a gozar comigo o tempo todo! Acreditas que não é Castelo Branco, mas sim só Castelo, e ainda por cima o pai é contínuo na Associação dos Deficientes das Forças Armadas ali ao pé do Rossio?
Miserável, reles, odeio-o!
Mais tarde a Maria Paulo veio a casar-se com um economista de boas famílias, condição de que não poderia abdicar na sua escolha.
Quanto ao Castelo, trata-se do VIRGILIO CASTELO, que hoje é figura importante do teatro e das novelas, tanto como actor como director de actores, cara com a qual todos nos cruzamos amiúde na TV.
Teresa David-foto recolhida na net

32 comentários:

... disse...

A vida é feita de opções e pelo acaso.

Cumprimentos


otaciturno.blogspot.com

Luis Eme disse...

Bonita história de costumes da tua adolescência, povoada de sonhos, como a de todos nós...

M. disse...

Bem se compreende o fascínio que a tua amiga teve, pois que ele não era (já perdeu qualidade...) nada de desprezar... Pelo menos assim parecia à distância do ecrã de televisão e de uma peça de teatro que em tempos vi.

M. disse...

A tua história trouxe-me à memória um post antigo do Fotoescrita que acabei de pôr no PPP. A culpa foi tua. :-))

A. João Soares disse...

Cara amiga,
Agradeço a visita e o comentário deixado no meu cantinho de meditação. Não sou Castelo mas sou branco, o que não me orgulhe de forma especial porque há brancos detestáveis e há-os de outras cores que são possuidores de um rico hardware de neurónios de grande capacidade, funcionar com software de grande frequência.
Gostei desta sua história, que não consegui situar no tempo, por não imaginar que o Castelo da televisão possa ter sido do temo de uma senhora com 251 anos!!! Ou será que seja mentira ter esta idade? Talvez, tenha havido erro ao elaborar o perfil|||
Um abraço, e apareça mais vezes no Do Miradouro

Bichodeconta disse...

Pena que as pessoas ainda hoje se encantem pelos nomes ou profissões como se tal seja caminho aberto para a felicidade...A história é uma boa recordação de adolescentes.. Ó amiga mas cá para mim o Vergilio Castelo ainda é um gato e não me parece nada que já tenha 250 anos... Não me parece de todo.. Digam orgulhosamente a idade que teem..Um abraço, Ell

Márcio disse...

Cheguei a pensar que era mesmo verídica...

bettips disse...

Mas que boa oportunidade a tua amiga perdeu: entre um economista e um artista... Devia já ser um rico rapaz poético e a mim sempre me puxou a chinela para a poesia, o romance... Adorável e inteligente, como sempre, a tua recordação! Bjinho

Henriqueseis disse...

Ví no teu perfil que gostas de ler.É mesmo duma pessoa como tú que eu preciso que passe pelo meu blog para avaliar as minhs histórias.


http://novos-mitos-urbanos.blogspot.com

Marta Vinhais disse...

Quem diria? O Virgilio Castelo e concordo com a tua comentadora - está ainda muito jeitoso e charmoso..
Como sempre uma história interessante..
Obrigada pela visita..
Até já.
Beijos e abraços
Marta

Era uma vez um Girassol disse...

Que engraçada história, Teresa!!!!
jä me ri...
Tens um miminho no girassol.
Beijinhos

rui disse...

Olá Teresa

Lindo recordar de momentos vividos da nossa adolescência.

Beijinho

M. disse...

A culpa de eu lembrar tons rosados de fim de tarde foi tua... ;-)

Conceição Paulino disse...

isto dos preconceitos e dos pergaminhos tem muito k se lhe diga. A história está bem contada, fluente e ...aprazível.
P.S -Vai até ao teu perfil e vê a tua idade.
Ontem estive sem P.C.
Tive k o zerar e reinstalar tudo e ainda não acabei. mas já dá para ir funcionando.
Bjocas e boa semana

Lusófona disse...

Hoje tudo está muito diferente.... os adolescentes fazem o que querem....

Beijinhos e boa semana

jorge esteves disse...

E eu, que há uns tempos para cá só falo em castelos...
abraço.

Isamar disse...

Pois esse castelo deveria ser uma obra de arte. Hoje, gasto pelo tempo, ainda não está em ruinas nem nada que se pareça.
Beijinhos

Kalinka disse...

Hoje...aventurei-me pelo seu blog, já nos tinhamos cruzado aí pelos caminhos da blogoesfera, mas...não me decidia a vir espreitar. Hoje fi-lo e estou a gostar da sua forma de escrever, muito descritiva, tal como eu, no entanto, fui muitas vezes demasiado criticada por isso. Paciência!

Um pouco da minha história:
...mas eu e ela nada vimos, aquele era o «nosso Mundo, o nosso momento».
Davamos gritinhos histéricos quando passavamos a barreira dos chuveiros, para entrar ou sair do recinto da piscina, consoante os salpicos frios que nos atacavam... chegando à toalha eu enrolava-a com carinho e amor, para ela secar rápido e não continuar tremendo, depois escondiamo-nos as duas debaixo da mesma toalha...conseguem imaginar?

Beijos enrolados com fitinhas azuis.

Menina Marota disse...

Uma bonita estória, que nos demonstra que a Vida é uma caixinha de surpresas...

Gostei de te ler.

Um abraço e boa semana ;)

Alexandre disse...

Um grande Castelo, por sinal! Sempre associei Virgílio Castelo e Rogério Samora como dois dos maiores actores portugueses, pessoas por inteiro e íntegras, e continuo a achar isso! Sou um grande admirador do Virgílio Castelo, dele como profissional e como pessoa!

Muitos beijinhos!!!

Carla Augusto disse...

Parabéns por este blog!

Naty disse...

Olá visitei teu blog e adorei.voltarei
bjs naty

Cöllybry disse...

Nada é ao acaso...tudo tem seu tempo de encontro...

Doce beijo

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

E o que aí há ainda para nos contar...
Tens o dom de escreveres bem prendendo a nossa atenção e as personagens são conhecidas de todos.
Continua a tua tarefa partilhando-a connosco.

Bjs

Paulo disse...

Kisssssssss

A «correr»

Paulo

O Profeta disse...

Olá Teresa, ler-te contar humanidades é uma viagem por um passado que todos devia-mos recordar com a mesma silgeleza com que o fazes...


Profético beijo

Isamar disse...

Reli este relato interessante que nos deixaste e deixo-te beijinhos.
Tem um bom dia!

Afrodite disse...

como diria um nosso comum conhecido, pasteleiro de sua profissão, "esta estória está muito bem esgalhada".

Jorge P. Guedes disse...

Teresa:

O Castelo vai saber que essa história foi contada? eheheh...
Não tem nada de mal, claro, apenas revela que já seria um grande actor e inventor de situações.

Um abraço.

Bichodeconta disse...

Por onde anda agora a menina? Férias novamente.. Vá lá, ando aqui á procura de novidade e deixo um abraço assim como a promessa de voltar.. Um beijinho, Ell

Paúl dos Patudos disse...

Bonita história teresinha, gostei mesmo.
As tuas fotos estão o máximo, uma futura mamã feliz, tirando o gatinho, que nem por isso queria partilhar estes momentos.
beijos
Ana Paula

APC disse...

Magnífico!!! :-)
E logo o VC, que viria a ser um jeitozaço! :-)))