quinta-feira, julho 06, 2006
terça-feira, julho 04, 2006
PRISIONEIRA
Há mais de 20 anos que a vejo a envelhecer, sem que se dê muito por isso, como acontece com toda a gente que vemos todos os dias.
Ela vive na vivenda colada á minha casa, e da minha janela, através do arame farpado, vejo-a estender a roupa, abanar o fogareiro onde assa o peixe, brincar com um garoto que toma conta, falar com as vizinhas.
Ao longo dos anos vi-lhe crescer a filha que se tornou mulher, e que a fez avó.
Mulher esquálida, de voz forte, nunca trabalhou fora de casa, e todo o seu reino se confina ao dentro e fora das portas da sua casa, permanecendo nesse quintal frente a mim, sempre que o clima o permite, ou correndo quintal afora a apanhar a roupa para não se molhar, quando as nuvens tombam em salpicos. Nunca a vi, aquando se senta num banco, ler um livro, não, fica queda a olhar o vazio, talvez a pensar na vida, como se costuma dizer.
Sei que seria incapaz de ter uma vida assim, presa a uma casa, coisa tão claustrofóbica para mim.
Contudo, ela está sempre calma e afável.
Mulher que me relembra os tempos da absoluta e irredutivel submissão ao marido, que pelos vistos ainda não acabaram. Pelo menos aqui, mesmo em frente á minha janela!
Teresa David