O VAI-VEM
Dia 30 de Novembro fui para o aeroporto, esperar, ansiomente, a chegada do meu filho da Holanda.
Já se tornou banal para mim, por esta altura, passar horas infinitas no átrio de espera da Portela, que é um foco de gripes, que, invariavelmente, tenho, de cada vez que ele vem. Passo a explicar: os bancos alinhados em frente á zona donde saiem os passageiros, têm, por detrás a porta de saída para a rua, o que torna a zona extremamente desconfortável.
Mas, rever a cria acaba por ser mais importante do que o arrepio que logo me invade o corpo.
Nesta época, a recolha das bagagens torna-se bastante mais morosa, logo, tive de esperar mais de duas horas para vê-lo aparecer na porta larga.
Detesto esperar, assumo, mas detesto ainda mais ficar entediada, por isso, aproveito estas demoras para ir olhando em redor a movimentação de quem chega, de quem parte e de quem espera.
Desta feita, estava eu nas minhas observações quando vi aflorar á porta larga da saída da recolha das bagagens, um homem esquálido, com um saco de plástico na mão, com um aspecto que indicava sem margem de dúvidas, ser um sem-abrigo. Obviamente que as minhas antenas ficaram logo no ar!
Vi-o ir até á porta da rua, voltar a entrar e tentar ultrapassar a saída dos passageiros, o que é completamente proibido e uma inversão do habitual.
Um segurança foi ter com ele que nem abriu a boca, ficando estático em território intermédio entre a entrada e saída.
Para minha estranheza vi chegar outro segurança que cochichou algo ao ouvido do primeiro, tendo de seguida o sem-abrigo, de cabelo todo grisalho preso com um elástico e rosto percorrido por sucalcos de rugas, entrado novamente para a zona das bagagens.
Como, entretanto, vagara um lugar nas cadeiras, fui-me sentar, mantendo-me alerta ao seguimento do que se desenrolava perante o meu olhar.
Passados breves instantes ele voltou a sair, agora com dois sacos de plástico.
Durante o tempo que permaneci no local, consegui contar vinte entradas e saídas.
Como não gosto de histórias sem final feliz ou não, acabei por perguntar ao segurança o que o homem andava a fazer, ao que recebi a curiosa resposta:
Olhe, coitado, ele não tem onde cair morto, mas adorava viajar. Por isso, os meus superiores decidiram fechar os olhos e deixá-lo andar neste vai-vem que tanto prazer lhe dá, e a nós não nos incomoda pois entra mudo, sai calado, e, particularmente, não se mete com ninguém.
Domingo irei levar o meu filho ao aeroporto para regressar á Holanda, mas aí nem quero entrar, para não sentir mais de perto a ausência que ficará instalada em mim.
Teresa David-foto retirada da Net do Aeroporto da Portela